sábado, 22 de fevereiro de 2014

                                                         BUSQUEM A VERDADE!

Festas Bíblicas Judaicas: Devemos Segui-las?



  "As festas bíblicas são ordens sagradas do Senhor. Elas não são apenas judaicas; são, antes de mais nada, do Senhor, declaradas como estatuto eterno (Lv. 23:1-44). Essas festas não são um convite para que a Igreja volte à primeira aliança, mas para sustentar a mensagem que elas transmitem. Elas apontam para o fim, para o Cordeiro e falam da parusia, ou seja, a segunda vinda do Messias."

"Preste atenção ao que está sendo ministrado, pois Roma não deseja que nossos olhos sejam abertos. Roma quer nos prender ao paganismo. Esse paganismo se traduz na tentativa de deixar as festas bíblicas no esquecimento e de pegar as festas pagãs e tentar cristianizá-las. Porém, Deus abriu os nossos olhos. Não estamos mais debaixo da escuridão, pois o Senhor nos trouxe para a luz."

(Ap. Renê Terra Nova).



A frase do autodenominado "apóstolo" René Terra Nova demonstra bem a necessidade de estudarmos este assunto: a Igreja deve guardar festas e costumes judaicos? A Bíblia deixa alguma evidência de que tais práticas são para os cristãos?

Independentemente de dados históricos extra-bíblicos, devemos nos deter ao estudo das Escrituras para esclarecermos tais questionamentos. É da Bíblia a Palavra final sobre o assunto!

Para começarmos nosso estudo, é interessante nos debruçarmos sobre a carta de Paulo aos gálatas, pois os irmãos da Galácia estavam passando por uma situação semelhante à da igreja de hoje.

Quando Paulo escreveu aos gálatas, os judeus estavam presentes em todo o Império Romano, principalmente nas cidades mais importantes. Muitos deles se converteram ao cristianismo e, dentre os convertidos, havia aqueles que queriam impor a lei mosaica sobre os cristãos gentios. São os "judaizantes". Assim como os fariseus e saduceus perseguiram Jesus durante o período mencionado pelos evangelhos, os judaizantes pareciam estar sempre acompanhando os passos de Paulo a fim de influenciar as igrejas por ele estabelecidas. Essa questão entre judaísmo e cristianismo percorre o Novo Testamento.

Os judaizantes estavam também na Galácia, onde se tornaram uma forte ameaça contra a sã doutrina das igrejas.

Aqueles judeus davam a entender que o evangelho estava incompleto. Para conseguirem uma influência maior sobre as igrejas, eles procuravam minar a autoridade de Paulo. Para isso, atacavam a legitimidade do seu apostolado, como tinham feito em Corinto.


 

O EVANGELHO JUDAIZANTE


Os judaizantes chegavam às igrejas com o 
Velho Testamento "nas mãos". Isso se apresentava como um grande impacto para os cristãos. O próprio Paulo ensinava a valorização das Sagradas Escrituras. Como responder a um judeu que mostrava no Velho Testamento a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à lei? Além disso, apresentavam Abraão como o modelo para os servos de Deus.

Os judaizantes ensinavam que a salvação dependia também da lei, principalmente da circuncisão. Segundo eles, para ser cristão, a pessoa precisava antes ser judeu (não por descendência, mas por religião). Foi para combater as heresias judaizantes que Paulo escreveu aos gálatas e mostrou àqueles irmãos que voltar as práticas e aos cerimoniais da Lei era cair da graça. (Gálatas 5:1-10):
“1 ¶ ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. 2 Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. 3 E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. 4 Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído. 5 Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça. 6 Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. 7 Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade? 8 Esta persuasão não vem daquele que vos chamou. 9 Um pouco de fermento leveda toda a massa. 10 Confio de vós, no Senhor, que nenhuma outra coisa sentireis; mas aquele que vos inquieta, seja ele quem for, sofrerá a condenação.” (Gl 5:1-10)

Algo parecido tem acontecido na Igreja brasileira nos dias atuais. Os judaizantes modernos ensinam que devemos guardar as festas judaicas, ler a Torah nos cultos, etc.

É muito comum vermos cristãos usando kipás (bonezinho usado pelos judeus), buscando ligações genealógicas com o povo israelita para que possam obter nacionalidade judia, entre outras coisas. Até mesmo nos cultos de algumas igrejas, músicas e danças judaicas foram inseridas.

Em nome do amor a Israel a bandeira da nação é colocada na igreja (será que um árabe desejoso por conhecer Cristo entraria nesta igreja?), o shofar é tocado e promovem-se as festas com a promessa de uma nova unção sobre a vida de quem participa de tais celebrações.

Há igrejas onde as pessoas não podem adentrar ao templo de sandálias ou sapatos e são orientadas a tirar os calçados, pois, segundo ensinam, irão pisar terra santa.

Há notícias de denominações no Brasil onde os assentos foram retirados dos templos e os crentes ficam de joelhos em posição semelhante à usada pelos judeus nas sinagogas.

Uma famosa "apóstola" apregoa inclusive a necessidade da Igreja Evangélica brasileira guardar o sábado. Em uma entrevista a antiga revista Vinde, ela declarou: "Meu contato com Israel me mostrou várias coisas, como os dias proféticos, as alianças: seis dias trabalharás e ao sétimo descansarás. Êxodo 31 declara que o sábado é o sinal de uma aliança perpétua e da volta de Cristo".

Afinal, devemos ter a preocupação de celebrar as festas judaicas, usar kipá, colocar pano de saco, banhar-se de cinzas? O cristão tem essas obrigações? O que diz a Palavra sobre o assunto?

Sobre a idéia da guarda do sábado e a sugestão da pastora de que isso faz parte de uma aliança perpétua, verifiquemos o seguinte:


Usar a expressão "aliança perpétua" para referir-se à aliança feita entre Deus e Israel é desconhecer a transitoriedade dessa aliança apontada pela Bíblia. Se não, vejamos. A Bíblia menciona a existência de duas alianças. A primeira foi firmada entre Deus e o povo de Israel (Êxodo 19.1-8), logo que saiu da terra do Egito e se acampou junto ao Monte Sinai. A aliança foi ratificada com o sangue de animais como se lê em Êxodo 24.1-8. No livro de Hebreus, o escritor se reporta a esta aliança, dizendo: 
“18 Por isso também o primeiro não foi consagrado sem sangue; 19 Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissope, e aspergiu tanto o mesmo livro como todo o povo, 20 Dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos tem mandado.” (Hb 9:18-20)


Essa aliança não integrava o povo gentio (Salmo 147.19 e 20): 
“19 Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. 20 Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem. Louvai ao SENHOR.” (Sl 147:19-20)


Embora o povo de Israel tivesse prontidão em responder que observaria essa aliança, na verdade, não a cumpriu, de modo que Deus prometeu nova aliança. Essa promessa foi registrada por Jeremias: 
“31 Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. 32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. 33 Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34 E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.” (Jr 31:31-34).

Novamente, o escritor do livro de Hebreus se reporta a essa nova aliança, afirmando que ela já tinha sido estabelecida por Jesus Cristo: 
“6 ¶ Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança que está confirmada em melhores promessas. 7 Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda.” (Hb 8:6-7). Ainda Paulo, falando sobre a antiga aliança, declara: “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.” (2Co 3:6). Logo, não se pode falar em "aliança perpétua", referindo-se à primeira aliança entre Deus e Israel.

O que talvez a apóstola quisesse, mas não o fez, era dizer que o sábado é um mandamento perpétuo, como se lê em Êxodo 31. 16 e 17. Todavia, ainda assim, ela estaria incorreta. Não procede dizer que a guarda do sábado deva ser observada pelos cristãos hoje. Isto porque a palavra perpétuo não se aplica só ao sábado, mas também a vários outros preceitos que os guardadores do sábado nunca se dispuseram a cumprir, como, por exemplo, a circuncisão pois Gênesis 17.13-14 diz o seguinte: 
"Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança". E agora, teremos que nos circuncidar também? Ou não seria mais coerente guardar o significado espiritual de tais ordenanças e não o seu aspecto cerimonial?

Um outro argumento da "apóstola" é a de que o domingo tem origem pagã, ela diz: "Roma teve um imperador que adorava o sol. Daí Sunday (dia do sol) [do inglês, domingo]. Por essa questão pagã, a tradição chegou até nossos dias...".

Entretanto, esse é um argumento pueril, freqüentemente citado por eles para imprimir a idéia de que a guarda de outro dia que não o sábado é de origem estritamente pagã. Tão pagã quanto a palavra Sunday é Saturday (dia de Saturno), sábado, em inglês. O dia era dedicado ao deus Saturno e prestava-se culto com orgias e muita bebida. Os dias da semana levavam nomes pagãos e não só o domingo.

Constantino, por sua vez, foi o primeiro imperador romano a adotar o cristianismo. Quando o fez promulgou vários decretos em favor dos cristãos, destacando-se o de 7 de março de 321. Se vale o argumento de que a guarda do domingo é de origem pagã por ter sido Constantino quem firmou o primeiro dia da semana como dia de guarda, então teria que reconhecer que a doutrina da Trindade também tem origem pagã, pois foi o mesmo Constantino quem presidiu o Concílio de Nicéia, em 325, quando foi reconhecida biblicamente a deidade absoluta de Jesus. Jesus sempre foi Deus verdadeiro ou passou a sê-lo depois do Concílio de Nicéia? E o domingo passou a ser dito como dia de adoração em decorrência do decreto imperial ou os cristãos já o tinham como dia de adoração?

Quanto ao uso do Kipá, atente para o significado desta indumentária judaica segundo judeus messiânicos:

"Kipá - Simboliza que há alguém acima de você - O significado da palavra kipá é "arco", que fica compreensível quando pensamos em seu formato. A kipá é um lembrete constante da presença de Deus. Relembra o homem de que existe alguém acima dele, de que há Alguém Maior que o está acompanhando em todos os lugares e está sempre o protegendo, como o arco, e o guiando. Onde quer que vá, o judeu estará sempre acompanhado de Deus".

"É costume judaico desde os primórdios um homem manter sua cabeça coberta o tempo todo, demonstrando com isso humildade perante Deus. É expressamente proibido entrar numa sinagoga, mencionar o nome Divino, recitar uma prece ou bênção, estudar Torá ou realizar qualquer ato religioso de cabeça descoberta".

Fica o questionamento: é necessário para um cristão usar um kipá para lhe lembrar a presença de Deus? É preciso usar esse gorrinho para não esquecer de que Deus é Soberano e está acima de todos?

Não basta para o verdadeiro cristão o fato de que o próprio Deus habita em nós por meio do Seu Espírito? Fica o questionamento de Paulo aos coríntios: (1 Coríntios 3:16) 
"Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?".


 

POR QUÊ NÓS CRISTÃOS NÃO GUARDAMOS A LEI?


1o – A lei de Moisés foi dada aos filhos de Israel (Êx.19,3,6). Nós, cristãos gentios, não somos filhos da nação Israel.

2o – Jesus cumpriu a lei cerimonial. Tal cumprimento significa não apenas sua obediência, mas a satisfação das exigências da lei cerimonial através da obra de Cristo.

Precisamos entender que os mandamentos da lei mosaica se dividem em vários tipos. Vamos, basicamente, dividi-los em mandamentos morais, civis e cerimoniais:

Os mandamentos morais dizem respeito ao tratamento para com o próximo: Não matarás; Não adulterarás; Não furtarás, etc. Tais ordenanças estão vinculadas à palavra amor.

Os mandamentos civis são aqueles que regulamentavam a vida social do israelita. São regras diversas que se aplicam às relações da sociedade. Um bom exemplo é o regulamento da escravidão.

Os mandamentos cerimoniais são aqueles que se referem estritamente às questões religiosas. São as ordenanças que descrevem os rituais judaicos.

A classificação de um mandamento dentro desses tipos nem sempre é fácil. Algumas vezes, uma lei pode pertencer a dois desses grupos ao mesmo tempo, já que a questão religiosa está por trás de tudo. A sociedade israelita era essencialmente religiosa. O Estado e o sacerdócio nem sempre se encontravam separados. Contudo, tal proposta de classificação já serve para o nosso objetivo.

A lei moral se resume no amor a Deus e ao próximo, como é dito em Gálatas 5.14 
"Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo".Os princípios morais permanecem válidos no Novo Testamento. Hoje, não matamos o próximo, mas não por causa da lei de Moisés e sim por causa da lei de Cristo (Gálatas 6.2) "Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo" à qual os gálatas deviam obedecer. A lei de Cristo é a lei do amor a Deus e ao próximo.

As leis civis do povo de Israel não se aplicam a nós. Além dos motivos já expostos, nossas circunstâncias são bastante diferentes e temos nossas próprias leis civis para observar. O cristão deve obedecer as leis estabelecidas pelas autoridades humanas enquanto essas leis não estiverem ordenando transgressão da vontade de Deus (Rm.13.1) 
"Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas".

As leis cerimoniais judaicas foram abolidas por Cristo na cruz (o significado de cada uma delas se cumpriu em Cristo). Por esse motivo, mesmo os judeus que se convertem hoje ao cristianismo estão dispensados da lei cerimonial judaica. Por isso, não fazemos sacrifícios de animais, não guardamos o sábado, não celebramos as festas judaicas, etc.

Se alguém quiser observar algum costume judaico, isso não constituirá problema, desde que a pessoa não veja nisso uma condição para a salvação e nem prometa através destas coisas tornar alguém mais espiritual. (Rm 14.-8)
“1 ¶ ORA, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. 2 Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. 3 O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu. 4 Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio SENHOR ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. 5 Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. 6 Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o SENHOR não come, e dá graças a Deus. 7 Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. 8 Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” (Rm 14:1-8 ACF)


O problema é justamente a conotação dada a essas festas e aos costumes judaicos por pessoas de movimentos judaizantes. Por exemplo, dizem que se não celebrarmos as festas estaremos sendo devedores ao Senhor e que celebrar seria repreender o "espírito de Roma" da Igreja, que o Evangelho estaria de volta a Jerusalém, etc.

Celebrar uma festa judaica na igreja como representação simbólica do período vetero-testamentário nada tem de mais, no entanto, colocar isso como obediência de mandamento é certamente abandonar a graça de Deus e voltar a Lei.

Já há gente se vestindo de pano de saco e banhando-se de cinzas para mostrar arrependimento. Em certos ambientes, para se aproximar do púlpito é preciso que os crentes tirem os calçados, pois estariam pisando em "lugar santo". Com isso, a obra de Cristo estará sendo colocada em segundo plano, como algo incompleto e insuficiente, como fica claro em Gálatas 5.4-6 
"De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor".

Além de tudo isso, é bom que citemos as palavras de Paulo: 
"..não estais debaixo da lei mas debaixo da graça." (Rm.6.14).

O Pastor Isaltino Gomes Coelho Filho escreveu o seguinte sobre a rejudaização da Igreja:


A rejudaização do evangelho tem um lado comercial e outro teológico. O comercial se vê nas propagandas para visita à "Terra Santa". O judaísmo girava ao redor de três grandes verdades: um povo, uma terra e um Deus. No cristianismo há um povo, mas não mais como etnia. A Igreja é o novo povo de Deus, herdeira e sucessora de Israel, composta de "homens de toda tribo, e língua e povo e nação" (Ap 5.9). Há também um Deus, que se revelou em Jesus Cristo, sua palavra final (Hb 1.1-2). Mas não há uma terra santa. No cristianismo não há lugares e objetos santos. O prédio onde a Igreja se reúne e que alguns chamam, na linguagem do Antigo Testamento, de "santuário", não é santuário nem morada de Deus. É salão de cultos. O Eterno não mora em prédios, mas em pessoas. Elas são o santuário (At 17.24, 1Co 3.16, 6.19 e Hb 3.6). Deus não está mais perto de alguém em Jerusalém que na floresta amazônica, nos condomínios, favelas e cortiços das grandes cidades. No cristianismo, santo não é o lugar. São as pessoas. Não é o chão. É o crente. E Deus pode ser encontrado em qualquer lugar. Não temos terra santa, e sim gente santa.

A propaganda gera uma teologia defeituosa. Pessoas vão à Israel para se batizar nas águas onde Jesus se batizou. Ora, o batismo é único, singular e sem repetição. Ele segue a conversão e mostra o engajamento da pessoa no propósito eterno de Deus. Uma pessoa que foi batizada, após conversão e profissão de fé, numa igreja bíblica, não se batiza no rio Jordão. Apenas toma um banho. E, sem o sentido filosófico do ser e do vir a ser de Heráclito, aquele não é o Jordão onde Jesus foi batizado porque as águas são outras. As moléculas de hidrogênio e oxigênio que compunham aquele Jordão podem estar hoje em alguma nuvem. Ou na bacia amazônica. Ou no mar. Até no Tietê. É mero sentimentalismo e não identificação com Jesus. É lamentável que pastores conservadores em teologia "batizem" crentes já batizados no Jordão. Isto é vulgarizar o batismo, tirando seu valor teológico.

Não sou contra turismo. Faça-o quem puder e regozije-se com a oportunidade. Sou contra o entortamento da teologia como apelo turístico. Temos visto pastores com sal do mar Morto, azeite do monte das Oliveiras (há alguma usina de beneficiamento de azeitonas lá?) e até crucifixos feitos da cruz de Jesus (pastores evangélicos, sim!). Há um fetichismo com terra santa, areia santa, água santa, sal santo, folha de oliveira santa, etc. No cristianismo as pessoas são santas, mas as coisas não. A rejudaização caminha paralelamente com a superstição e feitiçaria. É parente da paganização. Não estou tecendo uma colcha de retalhos. Tudo isto é produto de uma hermenêutica defeituosa, que não compreende as distinções entre os dois Testamentos, os critérios diferentes para interpretá-los, a pompa e liturgia do judaísmo em contraposição à desburocratização do cristianismo e que a palavra final de Deus foi dada em Jesus Cristo. É o NT que interpreta o AT e não o AT que interpreta o NT.


Um outro fator abordado pelo pastor Isaltino é a tal "restauração do sacerdócio". O pastor visto como um intermediário da relação do homem com Deus. Sabemos que no NT o sacerdócio universal do crente fica claro, nem um filho de Deus precisa de sacerdotes humanos para ter acesso ao Pai. Temos a Cristo como o nosso Mediador:

Entretanto, a incidência do uso do termo "leigo" para os não consagrados aos ministérios é reveladora. Todos nós somos ministros, pois todos somos servos. E todos somos leigos, porque todos somos povo (é este o sentido da palavra "leigo", alguém do povo). Não temos clero nem laicato. Somos todos ministros e somos todos povo. Mas cada vez mais as bases ministeriais são buscadas no Antigo Testamento e não no Novo. Usamos os termos do Novo com a conotação do Antigo. O pastor do NT passa a ter a conotação do sacerdote do AT. É o "ungido", detentor de uma relação especial com Deus que os outros não têm. Só ele pode realizar certos atos litúrgicos, como o sacerdote do AT. Por exemplo, batismo e ceia só podem ser celebrados por ele. Assumimos isto como postura, mas não é uma exigência bíblica. Na batalha espiritual isto é mais forte. Os pastores tornam a igreja dependente deles. Só eles têm a oração poderosa, a corrente de libertação só pode ser feita por eles e na igreja, só eles quebram as maldições, etc.

O sentido teológico do sacerdote hebreu parece permear fortemente o sentido teológico do pastor neotestamentário na visão destas pessoas. Este conceito convém ao pastor que prefere ser chamado de "líder". Ele se torna um homem acima dos outros, incontestável, líder que deve ser acatado. Tem uma autoridade espiritual que os outros não tem. O Antigo Testamento elitiza a liderança. O Novo Testamento democratiza. Para os líderes destes movimentos, o Novo Testamento, a mensagem da graça e a eclesiologia despida de objetos, palavras e gestual sagrados não são interessantes. Assim, eles se refugiam no AT. Por isso há igrejas evangélicas com castiçais de sete braços e estrelas de Davi no lugar da cruz, bandeira de Israel, guardando festas judaicas, e até incensários em seus salões de cultos. Há evangélicos que parecem frustrados por não serem judeus. A liturgia pomposa do judaísmo é mais atraente e permite mais manobra ao líder que se põe acima dos outros. Concluindo, a atração pelo poder é maior do que o desejo de servir.


 

A RESPOSTA DE PAULO AOS JUDAIZANTES DA GALÁCIA:


A perniciosidade da influência judaica na Galácia estava no fato de atentar contra a essência do evangelho. Os judeus queriam acrescentar a circuncisão como condição para a salvação. Se assim fosse, o cristianismo seria apenas mais uma seita do judaísmo. Então, Paulo vem reforçar o ensino de que a salvação ocorre pela fé na suficiência da obra de Cristo. Para se conhecer a suficiência é preciso que se entenda o significado. Em sua exposição, Paulo toma Abraão como exemplo, assim como fez na epístola aos Romanos, afirmando que o patriarca foi justificado pela fé e não por obediência à lei. Tal exemplo era de grande peso para o judeu que lesse a epístola. Na seqüência, o apóstolo expõe diversos aspectos da obra de Cristo e do Espírito Santo na vida do salvo sem as imposições da lei.


 

COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DA LEI E DA GRAÇA


A lei mosaica se concentrava em questões visíveis, embora não fosse omissa com relação ao espiritual. Os pecados ali proibidos eram, principalmente, físicos. Assim também, a adoração era bastante prática. Seus preceitos determinavam o local, a postura, a roupa, o tempo apropriado, etc. No Novo Testamento, Jesus vem transferir a ênfase para o espiritual, embora não seja omisso em relação ao físico. Ao falar com a mulher samaritana, Jesus observa que ela estava muito preocupada com os aspectos exteriores da adoração a Deus. Isso era característica da ênfase do Velho Testamento. Jesus lhe disse: 
"A hora vem e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e em verdade" (João 4.23). Vemos nisso a ênfase do Novo Testamento: que é espiritual.


 

Contrastes entre a Lei e a Graça


LEI / MOISÉS

Mostra o pecado

Enfatiza a carne

Traz prisão e morte

Infância

Traz maldição


GRAÇA / JESUS / CRUZ

Perdoa o pecado

Enfatiza o espírito

Traz libertação e vida

Maturidade

Leva a maldição

Aponta pra Cristo

Conduz ao Pai


 

PRESERVAÇÃO DA LIBERDADE



Paulo admoestou os gálatas para que se lembrassem do significado da obra de Cristo, a qual teve o objetivo de libertá-los. Agora que eram livres, não deveriam voltar ao domínio da lei.

Voltar à lei é negar a graça e perder os seus efeitos, ele mostra isso enfaticamente no Capítulo 5. É renunciar aos direitos de filho e voltar a viver como servo (Sara e Hagar). É renunciar à liberdade cristã, a qual foi comprada pelo precioso sangue do nosso Senhor. A história de Israel foi uma seqüência de cativeiros e libertações. Não podemos permitir que a nossa vida seja assim.

Os judaizantes estavam querendo impor a marca da circuncisão como se esta fosse um valor cristão. Entretanto, Paulo conduz os gálatas a um exame mais profundo da questão. O sinal exterior tem valor quando corresponde à condição interior. Como disse aos Romanos, 
"a circuncisão é proveitosa se tu guardares a lei" (Rm 2.25). Então, o que seria evidência fiel do interior humano? As obras da carne e o fruto do espírito. São marcas do caráter e se revelam nas ações. Estas são as marcas mais importantes na vida de um ser humano. Entretanto, se os judaizantes faziam mesmo questão de marcas físicas, Paulo possuía as "marcas de Jesus", sinais de todo o seu sofrimento pela causa do Evangelho "Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus" (Gálatas 6.17).

O mesmo Paulo, escrevendo aos irmãos em Colossenses 2:16-17, diz: 
"Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo".

Cristo é a Luz do mundo, quem está em Cristo não anda em trevas. Por que então voltarmos às sombras? É isso que Paulo deixou claro. Portanto, fica evidente o quanto é descabida a idéia de introduzir costumes dos judeus nas atividades cristãs como cumprimento de mandamento, promessas de nova unção e coisas desse tipo.

Deus estabeleceu uma Nova Aliança em Cristo, pois na primeira os homens se apegaram muito mais aos rituais e aos símbolos do que ao significado dos mesmos. Passaram a viver uma religiosidade vazia e já no período do Antigo Testamento, o Senhor mostrava a sua tristeza com relação a isso: Isaías 1:13-14 
“13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene. 14 As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer.” (Is 1:13-14 ACF)


Usam mal Mateus 5:17, em que Jesus diz: 
"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir".

A palavra cumprir utilizada aqui vem do grego plérõsai, que significa "encher", "completar". Jesus não veio revogar ou destruir nenhuma palavra que Deus ensinara aos fiéis do passado no AT. Veio cumprir plenamente o propósito de Deus revelado no AT dando à Lei e aos Profetas aquilo que faltava: o Espírito Santo para interpretá-lo e o poder para pô-lo em prática, pela sua obra salvadora.

Cristo representa o fim do legalismo de se tentar cumprir a Lei, como está escrito em Romanos 10:3-4 
"Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê".

Cristo tirou o véu que encobria a Antiga Aliança. Ele revelou o "espírito" da Lei tornando-se carne. Cumpriu fielmente todas as ordenanças impostas pela Lei, dando a verdadeira interpretação a elas.

Ainda que Lei ordenasse o apedrejamento de adúlteras, Cristo perdoou uma mulher apanhada em adultério. Ainda que a Lei designasse o afastamento dos considerados "puros' dos leprosos, Cristo se aproximada deles, os tocava e os curava".

Cristo trouxe luz sobre o que eram sombras. Por que, então, voltar à escuridão do legalismo judaico?

Paulo resume esse comportamento da seguinte forma: 
"Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido". (2 Coríntios 3:14 ).


IGREJA DE CRISTO INTERNACIONAL MOVIMENTO DE BOSTON


1. Em busca da Igreja Verdadeira

            Qual é a única Igreja verdadeira? Onde encontrá-la? Quem são os verdadeiros cristãos nos dias de hoje? E que dizer do discipulado bíblico? Ainda existe da mesma forma como ocorria na Igreja Primitiva? Estas são perguntas interessantes, que revelam o desejo sincero de muitos em conhecer a verdadeira Igreja de Cristo e o genuíno discipulado bíblico. Contudo, por meio deste desejo legítimo, muitos acabam tornando-se vítimas de grupos anticristãos. Estes estão enganando a muitos discípulos de Cristo, ensinando ser a restauração da Igreja Primitiva, partindo do princípio de que a Igreja que Jesus fundou no primeiro século apostatou (isto é, desviou-se) da verdadeira fé, dos ensinamentos de Cristo, por volta do ano 100 d.C. Assim, a fim de salvar o mundo por meio da pregação do Evangelho, da Boa Notícia, esses grupos afirmam ser, individualmente, aqueles a quem Deus escolheu para restaurar o verdadeiro Cristianismo, a verdadeira Igreja de Cristo. Para convencer as pessoas de que são os escolhidos de Deus, muitos desses grupos não hesitam em atacar as igrejas cristãs. Fazem questão de apontar suas falhas, seus problemas internos etc. Afirmam que aqueles que não pertencem ao seu grupo são apenas "religiosos", ou seja, têm uma religião, que pouco ou nada influi na vida diária; enquanto que eles são cristãos verdadeiros, pois praticam o verdadeiro cristianismo. Costumam tomar os maus exemplos entre os cristãos, e generalizam afirmando que todos são iguais: frios na fé (não evangelizam, não lêem a Bíblia), confusos (uns batizam por aspersão, outro por imersão etc.), desunidos (cada um tem sua própria denominação: batistas, presbiterianos, anglicanos, luteranos), sem vida cristã (indecentes, devassos, mais amantes do mundo que amantes de Deus) etc. Assim, após apresentar esse quadro desanimador das igrejas cristãs (dos "religiosos"), alguns propõem uma vida radical, baseada nos ensinamentos de Cristo, que foram expostos no Novo Testamento e vividos pela Igreja Primitiva. De modo que, juntar-se a eles, é juntar-se à fileira dos verdadeiros cristãos. Em seu meio as pessoas tornarão sua vida a melhor possível, por meio de um relacionamento com Deus. Infelizmente, com esse discurso sedutor, muitos – sobretudo os jovens – têm abandonado suas igrejas e ingressado nesses grupos sectários.

2. Os "Restauradores"

            Talvez você esteja se perguntando: Quais são alguns desses grupos que afirmam ser a única igreja verdadeira? A maioria surgiu no século passado [XIX, 18**]. É interessante observar que cada grupo afirmou restaurar alguma coisa que caracterizava a Igreja Primitiva. Veja alguns exemplos:
  • 1830 – um jovem norte-americano, Joseph Smith, membro de uma Igreja Metodista, afirmou que numa aparição o Pai e o Filho lhe disseram que não se unisse a nenhuma igreja cristã, pois todos os seus credos eram abominações. Assim, por seu intermédio, a verdadeira Igreja seria restaurada; surgiu assim a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ou Igreja Mórmon. Declarou ter restaurado o sacerdócio bíblico (de Arão e de Melquisedeque, que tornaria seu batismo o único válido) e a autoridade na Igreja (restituindo o primitivo arranjo cristão: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres).
  • 1857 – o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, bacharel em Letras e Ciências, doutor em Medicina, poliglota e professor de Fisiologia, Astronomia, Química e Física, mais tarde conhecido como Allan Kardec, afirmou que o Espiritismo era o "outro Consolador" que Jesus havia prometido em João 14:26. Assim, segundo os kardecistas, oEspiritismo é o "Cristianismo Redivivo", ou seja, restaurado.
  • 1863 – uma jovem senhora norte-americana, Ellen White, membro da Igreja Metodista, junta-se a alguns grupos de decepcionados com uma falsa profecia que pregara a volta de Jesus para 22 de outubro de 1844. Surge a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Os adventistas consideram-se os possuidores das quatro características próprias de uma igreja verdadeira: unidade, santidade, universalidade e apostolicidade. Disse ter restaurado a guarda do sábado, que teria sido substituída pela observância do domingo.
  • 1870 – outro jovem norte-americano, Charles Russell, ex-presbiteriano, congregacional e Igreja Cristã do Advento, passou a desacreditar a doutrina da Trindade, da imortalidade da alma e do Inferno como lugar de castigo eterno para os ímpios. Estas seriam doutrinas da Igreja Primitiva. Por seu intermédio Deus (Jeová) estaria dando continuidade ao seu rol de fiéis testemunhas. Através deste grupo, tanto o nome de Deus, quanto a pregação de casa em casa foram restaurados.
  • 1875 – Mary Baker Eddy (ex-congregacional), na cidade de Boston, EUA, fundou a Igreja de Cristo Cientista, mais conhecida como Ciência Cristã. Afirmou que seu grupo, a única igreja verdadeira, restaurou o dom de curas, perdido com a apostasia da Igreja Primitiva.
  • 1968 – David Brent Berg, filho de missionários cristãos, aos 49 anos, fundou a seitas "Meninos de Deus". Considerava-se o profeta que foi indicado pelas Escrituras a fim de pastorear o povo de Deus, conduzindo-o ao "Verdadeiro Pastor" e à vida eterna. Aos 26 anos pastoreou uma igreja evangélica. Trabalhou com "hippies", fundando os "Revolucionários por Jesus". O nome "Meninos de Deus" foi mudado para A Família do Amor, em 1978 (hoje, A Família). Acreditam ter restaurado a vida em comunidade e o genuíno amor fraternal.


3. A Igreja de Cristo Internacional – o mais novo candidato

            Em 1 de junho de 1979 surgiu um dos mais recentes candidatos a restaurador da Igreja Primitiva: a Igreja de Cristo Internacional (ICI), fundada pelo norte-americanoKip McKean. A ICI tem suas raízes nos "Discípulos de Cristo", grupo formado em 1809 por Alexander Campbell, nos EUA, que, vendo a desunião dos cristãos, decidiu uni-los. Sua proposta era acabar com o denominacionalismo e resgatar o Cristianismo primitivo. Ironicamente, o grupo converteu-se numa denominação, e também se dividiu em 1909, dando origem às Igrejas de Cristo. Kip McKean tornou-se membro de uma das Igrejas de Cristo, a de Crossroads, na Flórida, EUA, em 1973. Quem o levou para essa igreja foi Charles [Chuck] Lucas, que, em 1967, na Flórida, iniciou um programa denominado Multiplying Ministries (Multiplicando Ministérios ou Ministérios Multiplicativos). Devido a ter se destacado como um evangelista fervoroso, seguindo fielmente ao programa criado por Lucas, Kip McKean foi enviado para a Igreja de Cristo de Lexington, Massachusetts, em 1979, onde sua atuação promoveu um crescimento fenomenal. Este acontecimento marcou — segundo a própria ICI — o início de seu movimento religioso. Iniciando com 30 membros, McKean foi-se isolando das demais Igrejas de Cristo, afirmando que por meio daquele grupo estaria restaurando a Igreja que Jesus formou no Novo Testamento, o Cristianismo da Bíblia. Em 1981 foi introduzido um plano de evangelização mundial, que consistia em plantar igrejas em metrópoles-chave ao redor do mundo. Dessas "igrejas pilares" outras regiões geográficas ao redor dessas cidades seriam alcançadas. As três primeiras implantadas foram Chicago e Londres, em 1982 e Nova Iorque, em 1983. Ainda em 1983 o nome da igreja foi mudado para Igreja de Cristo de Boston, daí o nome "Movimento de Boston", surgido em 1984, que passou a designar todas as outras igrejas implantadas sob a orientação da Igreja de Boston. O caráter separatista crescia a cada dia. Muitos membros das outras Igrejas de Cristo, bem como de outras igrejas cristãs, passaram a deixar seus grupos de origem, aliando-se a Kip McKean. Isso foi causando discussões e intrigas no Movimento. Outro incidente também causou distúrbios no Movimento: em 1985 a Igreja de Cristo de Crossroads expulsou Chuck Lucas, o "pai na fé" de Kip McKean, por conduta sexual indevida. Ninguém mais seguraria Kip McKean. Muitos líderes se recusaram a obedecer sua liderança, que queria centralizar tudo em Boston, contrariando o sistema congregacional das Igrejas de Cristo, ou seja, cada igreja local, com sua liderança própria, era responsável por si mesma. A fim de salvaguardar sua liderança, McKean empreendeu entre 1986 a 1989 uma série de mudanças no Movimento, que foi denominada de "A Grande Restauração". Para começar, separou-se definitivamente das Igrejas de Cristo tradicionais, considerando-as uma "denominação morta" . A partir daí começou a rebatizar todos os que faziam parte do Movimento, incluindo os líderes, que agora seriam escolhidos e treinados pessoalmente por ele. Quem não quisesse se submeter, deveria sair do Movimento, não sendo mais considerado um cristão. Segundo McKean, seria preciso abandonar a "doutrina da autonomia", substituindo-a pela "doutrina da irmandade e unidade!". Em 1988 McKean criou um sistema piramidal, sendo ele o topo dessa pirâmide. Ele se tornou o Evangelista Mundial de Missões. Sua esposa, Elena Garcia McKean, passou a ser conhecida como a Líder Mundial do Ministério de Mulheres. Dividiu as nações do mundo em setores, designando um casal de líderes por setor. Em 1990, McKean se muda de Boston para Los Angeles, de onde passa a dirigir o Movimento. A igreja de Los Angeles é considerada a "Mega-igreja", com uma assistência de 12.000 pessoas. Em 1993, a fim de substituir o nome "Movimento de Boston", McKean, juntamente com outros líderes do movimento, numa conferência realizada no Los Angeles Sports Arena, adotaram o nome Igreja de Cristo Internacional, que, dependendo da cidade onde se encontrar, receberá o nome da mesma: se estiver em São Paulo será chamada de Igreja de Cristo Internacional de São Paulo; se estiver no Rio de Janeiro será designada Igreja de Cristo Internacional do Rio de Janeiro etc. O alvo de Kip McKean é implantar igrejas nas 216 nações do mundo. Atualmente estão presentes em 140 nações, com 329 igrejas implantadas, e uma assistência aproximada de 150.000 pessoas aos domingos.

3.1. Atividade da ICI no Brasil

            No Brasil, a ICI iniciou oficialmente suas atividades de proselitismo em maio de 1987, quando um grupo de 15 pessoas, liderado por Miguel e Anne-Brigitte Taliaferro, de Nova Iorque, desembarcou em São Paulo. No ano seguinte os Taliaferro vão para a África, e Jonh e Barbara Porter assumem a liderança de São Paulo. Em 1991 é formada a ICI do Rio de Janeiro. Em 1993 os Porter voltam para os Estados Unidos, assumindo a liderança em São Paulo Othon e Gabriela Neves (atuais Líderes do Setor Geográfico do Brasil). A ICI expandiu-se para outras cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte (1994) e Salvador (1997), atraindo principalmente jovens desiludidos com a religião de modo geral. Muitos são universitários. Em agosto de 1996, utilizando da H.O.P.E. Worldwide (Ajudando as Pessoas ao Redor do Mundo), uma ONG (organização não governamental), com sede em São Paulo, criada pela ICI em 1987 para ser seu "braço benevolente", a ICI promoveu uma campanha de doação de sangue, reunindo cerca de 32.000 pessoas na Cidade de São Paulo. Para esse evento, contratou o grupo musical baiano, Olodum1 — com raízes no Candomblé — para fazer um show, a fim de atrair pessoas para evangelizá-las. Seus adeptos juntaram-se aos participantes, evangelizando-os. Com sua atividade diária de proselitismo, a ICI já conta com 5 igrejas implantadas no Brasil, uma membresia em torno de 2.600 pessoas, e uma assistência de 4.000 aos domingos. Mas, para quem se espanta com tal crescimento, há um dado interessante: segundo informou John Porter, numa palestra realizada em São Paulo, em novembro de 1997, dos 800 novos convertidos naquele ano, o movimento perdeu 500! Uma perda de quase 65%. A ICI tem como desafio principal trazê-los de volta ao rebanho de McKean.



4. A Bíblia e a Verdadeira Igreja de Jesus Cristo

            A Igreja Internacional de Cristo julga ser a única e verdadeira igreja de Cristo, formada por verdadeiros discípulos, pois afirma ter restaurado o discipulado bíblico. Somente a ICI possuiria as características da verdadeira igreja: ensino bíblico, amizades, união, disposição financeira, alegria e crescimento diário. Declarou Kip McKean: Com essa convicção das Escrituras, veio a característica principal, só encontrada em nosso movimento – a igreja verdadeira e composta só de discípulos. (...) Não conheço nenhuma outra Igreja, grupo ou movimento que ensine e pratique o que ensinamos. Diante dessa pretensão da Igreja de Cristo Internacional e dos demais grupos citados, entre tantos outros, podemos afirmar o seguinte: Se ficar provado à luz da Bíblia que a Igreja que Jesus fundou no primeiro século subsiste até hoje, ou seja, que ela não desapareceu da face da terra, que nunca deixou de existir, e que nunca houve uma apostasia geral que pudesse afastá-la de Jesus Cristo, cairá por terra a presunção desses grupos, pois, se não houve a necessidade de restaurar a Igreja de Cristo, tampouco houve necessidade de um restaurador humano que recebeu de Deus tal tarefa. Dessa forma concluiremos que os que ensinam tal coisa mentem e tentam perverter as Escrituras que atestam a indestrutibilidade da Igreja de Jesus Cristo. Abordaremos essa questão à luz da Bíblia sob quatro aspectos:
  1. A indestrutibilidade da Igreja
  2. As credenciais do construtor da Igreja
  3. A apostasia na Igreja
  4. A Igreja primitiva tinha seus problemas



4.1. Definição

            Antes disso tudo, porém, cabe aqui uma definição: Que é Igreja? O termo vem do grego clássico ekklhsia (ekklesia), que significa assembléia, ajuntamento do povo. Corresponde à palavra kve (qahal), do Antigo Testamento (compare Atos 7:38 com Deuteronômio 4:10). Assim, no contexto do Novo Testamento, Igreja designa... a) A coletividade dos cristãos, ou seja, os cristãos reunidos (Atos 5:11; Mateus 18:17 – compare com Atos 8:11 e 11:22; 20:28; 1ª Coríntios 14:19, 23). b) Reunião, ajuntamento (1ª Coríntios 14:34). c) O lugar de reunião (1ª Coríntios 11:17). Paulo fala da Ceia que é ministrada na Igreja (lugar); quanto aos que não querem esperar, que comam noutro lugar: em suas casas (11:20-22). Assim, a oposição igreja/casa parece indicar que Paulo usou ekklesia no sentido de espaço geográfico, e não necessariamente no sentido de ajuntamento (veja também 14:35). Há outro ponto que também merece destaque: o que a Igreja não é. A ICI afirma que a Igreja é o Reino de Deus proclamado na Bíblia. E isso é muito importante para o movimento, pois costumam fazer com que os novos membros busquem em primeiro lugar os interesses da igreja, pois a Bíblia diz: Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça... (Mateus 6:33).

4.2. A Indestrutibilidade da Igreja

  • Mateus 16:18 – A indestrutibilidade da Igreja foi garantida pelo próprio Jesus, seu fundador, que declarou que nem mesmo as portas do Hades (inferno ou morte) poderiam vencê-la. Ora, se houve um tempo em que a Igreja deixou de existir, as palavras de Cristo perdem sua razão de ser.
  • Mateus 28:20 – Após ordenar aos discípulos que preguem em todas as nações, Jesus lhes garantiu: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século". Se ele prometeu estar com seus discípulos (sua Igreja) "até a consumação do século", seria evidente que sua Igreja subsistiria intacta até esse período; logo, como a "consumação" ainda não ocorreu, temos a certeza de que Jesus desde que fez tal promessa continua a assistir sua Igreja, pois se ele estaria "todos os dias" é porque sua Igreja também existiria "todos os dias".
  • Mateus 13:24-30, 36-43 – A parábola do trigo e do joio é a maior prova escriturística de que a Igreja é indestrutível. Jesus disse que plantaria no mundo a boa semente, ou seja, os filhos do reino, que representam a Igreja; por outro lado, o Diabo plantaria o joio (os filhos do maligno) no meio do trigo. Segundo Jesus ambos deveriam crescer juntos até o fim dos tempos, que ainda não ocorreu. Em outras palavras, se sempre haveria joio, sempre haveria trigo; contudo, se alguém disser que o trigo (os filhos do reino) desviou-se da fé, caindo em apostasia, estará fazendo de Jesus um mentiroso. Além do mais, ele disse que os anjos (os ceifeiros) fariam a separação do trigo e do joio, mas somente no fim dos tempos; até lá, ambos cresceriam juntos. Sendo assim, é possível aceitar a posição assumida pelos grupos de afirmam ser a restauração da primitiva Igreja.
  • Efésios 3:21 – Paulo disse que Deus é glorificado na Igreja através de Jesus Cristo em todas as gerações. A crença de que a Igreja caiu por séculos em apostasia, faz com que essa passagem perca sua força, pois haveria gerações que não puderam glorificá-lo.

4.3. As credenciais do construtor da Igreja

           Outro detalhe a ser observado é o seguinte: se determinarmos as credenciais e o caráter daquele que é o alicerce da Igreja, saberemos então se ela é ou não indestrutível. Assim, quais são as credenciais de Jesus, o construtor da Igreja? Ele é...
  • Deus Forte (Isaías 9:6)
  • Deus Todo-poderoso (Apocalipse 1:8)
    Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 19:6)
    Sustentador de todas as coisas pela palavra de seu poder (Hebreus 1:3)
    Detentor de todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18)
Medite nessas perguntas:
a) Com toda essa credencial, quem ousaria derrubar a Igreja que tem como construtor o próprio Cristo? (Romanos 8:31-39).
b) Seria Cristo um péssimo construtor? Se a Bíblia diz que ele veio para "destruir as obras do Diabo", como poderia o Diabo destruir a Igreja, obra-prima de Jesus Cristo? (1ª João 3:8).
c) Se a Igreja é o corpo de Cristo, como poderia o Diabo, por meio duma apostasia, separar Cristo de seu corpo durante séculos? (1ª Coríntios 12:12-20; Efésios 5:23) É preciso muita imaginação para se acreditar nisso! Finalizando, citamos Apocalipse 17:14: "Pelejarão eles [agentes de Satã] contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele."

4.4. Apostasia na Igreja

            Não se pode negar que houve, de fato, apostasia no seio da Igreja; negamos, contudo, que essa apostasia tenha sido geral, pois todos os textos apresentados como prova escriturística sobre a apostasia no meio da Igreja, apontam para uma apostasia parcial, nunca geral. Veja:
  • 2ª Tessalonicenses 2:3-17 – O autor menciona dois grupos, a saber, os que "perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos" e "deleitaram-se com a injustiça" etc.; esses serão os enganados por Satanás com todo o engano de injustiça. O outro grupo é formado pelos "irmãos, amados no Senhor", que foram escolhidos por Deus "desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade"; deveriam permanecer firmes e guardar o depósito da fé que receberam dos apóstolos. Assim, evidencia-se que aqueles que são de Cristo, por ele permanecem firmes, perpetuando sua mensagem, exaltando seu nome por todas as gerações. Os que não amaram a verdade, esses sim, foram seduzidos por Satanás.
  • 1ª Timóteo 4:1 – Este texto diz que "alguns" (e não todos) apostarão da fé.
  • 2ª Pedro 2:1 – Apesar de dizer que haverá falsos profetas no meio da Igreja, o texto não está apontando para uma apostasia geral, pois o versículo 2 diz que "muitos (e não todos) seguirão as suas práticas libertinas"; além disso, diz que o caminho da verdade seria "infamado", mas não diz nada de ser destruído ou interrompido por séculos.
  • Judas 17-24 – Assim como em 2ª Tessalonicenses 2:3-17, o autor menciona dois grupos: "os que não têm o Espírito": briguentos escarnecedores e os "amados": aqueles que foram "edificados na santíssima fé, orando no Espírito Santo"; sobre estes, Judas glorifica a Deus, que é poderoso para guardá-los de "tropeços" e para apresentá-los "imaculados diante de sua glória". Mais uma vez vemos o testemunho da Bíblia de que Deus preserva na santíssima fé aqueles que são seus, para que possam propagar sua vontade num mundo antideus.

4.5. A Igreja Primitiva tinha seus problemas:

           Normalmente, os grupos que dizem ser a restauração da Igreja primitiva, apontam as falhas das modernas igrejas, dizendo que estas se afastaram do cristianismo, pois andam confusas, sem amor ao próximo, sem vontade de evangelizar etc. Dizem que na sua Dizem que na sua organização as características da Igreja verdadeira estão presentes, de acordo com Atos 2:42-47, que são... a) Perseverança na doutrina dos apóstolos; b) Comunhão, amizades genuínas, sem acepção de pessoas; c) Partilhar ajuda aos necessitados; d) Alegria constante; e) Crescimento numérico espantoso etc. Uma viagem pela Bíblia, porém, nos levará a encarar uma dura realidade: a Igreja é composta por pessoas imperfeitas, que revelam suas imperfeições no seu trato com Deus e com o próximo. Nenhuma Igreja de Cristo, no tempo e no espaço, foi exemplo fiel em todas as áreas da vida cristã. Atos, capítulo 2, fala do início da história da Igreja, e não da concretização dessa história. Tudo começou ali, mas a história continua até hoje. Mesmo na Igreja primitiva era visível que nem tudo o que está em Atos 2 era de fato praticado por todas as igrejas. Os problemas surgiram quando a Igreja começou a crescer (Atos 6:1ss). Veja:
  1. Apostasia – alguns se afastaram da "doutrina dos apóstolos", ensinando que...
    • não havia ressurreição dos mortos (1ª Coríntios 15:12);
    • a segunda vinda de Jesus já ocorrera (2ª Tessalonicenses 2:2, 3);
    • a cruz não substituiu a guarda obrigatória da lei (Gálatas 1:6-9; 3:1-3).
  2. Inimizades – por vezes os membros das igrejas eram advertidos quanto às contendas e facções que havia entre eles; infelizmente a comunhão estava comprometida, havia acepção de pessoas e amizades corrompedoras. Leia: 1ª Coríntios 1:10-12; 3:1-4; Tiago 4:11, 12 e 3ª João 9, 10.
  3. Acepção de pessoas e falta de ajuda as necessitados – era incrível a falta de solidariedade da parte de muitos cristãos, que chegou a irritar profundamente a Tiago, além de que os ricos eram preferidos aos pobres (Tiago 2:1-9, 14-17).
  4. Tristeza – a Igreja de Cristo Internacional tentam vender uma imagem de eterna alegria, como se não houvesse lugar para a tristeza na vida dos membros da Igreja, ao contrário do que diz 2ª Coríntios 2:1-8; até Jesus se entristeceu (Marcos 14:34).
  5. Crescimento – o crescimento numérico não é sinal de que a igreja é verdadeira, pois, segundo Jesus, o joio cresceria junto com o trigo, na mesma proporção ou mais (Mateus 13:24-30). Em 2ª Pedro 2:1, 2, segundo a Bíblia, os falsos profetas seriam seguidos por "muitos". Assim, o crescimento diário desejável diz respeito à qualidade, não à quantidade (2ª Pedro 3:18). Além do mais, se é esse o critério, então a ICI foi desclassificada, pois, como dissemos anteriormente, citando as palavras de Jonh Porter (um dos líderes da ICI), dos 800 membros conquistas em 1997, perderam 500.
            Vale a pena a leitura das cartas destinas às sete igrejas relatadas no Apocalipse, que retratam a fragilidade da parte humana da Igreja de Cristo (capítulos 2 e 3). Apesar de todos os problemas, de toda a mesquinhez espiritual, da falta de amor, da falta de firmeza doutrinária que levava a igreja em Pérgamo a permitir que os nicolaítas tivessem livre acesso às suas dependências, ainda assim, diz a Bíblia, que Jesus estava "no meio dos candeeiros" ou das "igrejas" (Apocalipse 1:12, 13 e 20). Outro ponto igualmente importante é o fato de a ICI afirmar que no Cristianismo atual muitos não têm vida cristã. Contudo, é bom lembrar que a atitude de rebeldia ou de desobediência de alguns cristãos não invalida o Cristianismo. Por outro lado, o fato de muitas pessoas possuírem um padrão elevadíssimo de moral, não determina que seu sistema religioso seja o correto. Por exemplo: as Testemunhas de Jeová têm um alto padrão de moral cristã. Procuram viver de acordo com a moral e ética bíblicas. Condenam o sexo antes do casamento, o adultério, o homossexualismo, o roubo, a mentira etc. Nem por isso se pode dizer que a sua religião é a única verdadeira. Contudo, viver estes comportamentos é obrigação de todos nós. Cumpri-los ou não cumpri-los não fará de minha igreja falsa ou verdadeira. E mais. A vida de alguns cristãos não é nem de longe recomendável; contudo, aquilo que ele diz ou prega pode estar de acordo com a palavra de Deus, mesmo que ele não a cumpra (Leia Mateus 23:1-3). Assim, os critérios para se determinar se uma igreja é verdadeira ou falsa vai muito além disso. É claro que vida cristã é importante. Importantíssima! Porém, ser fiel à sã doutrina, também. Que adianta viver como cristão, e ensinar doutrinas falsas acerca da Igreja, pondo em xeque a credibilidade de seu construtor?

4.6. A verdadeira Igreja

            Diante de tudo o que foi colocado, surge a pergunta inevitável: qual das igrejas existentes hoje é a verdadeira Igreja de Cristo? Levando em conta que a ekklesia é de Cristo, e que ela existe desde a sua fundação, afirmamos a Igreja Verdadeira é o conjunto de todos os cristãos, em todos os tempos, os "filhos do Reino", que estão espalhados no mundo, por todas as denominações que abraçam a Jesus Cristo e sua mensagem, que pregam-no como o único Dono, Senhor, Salvador e Mestre (Judas 4; Tito 2:13). Assim, os cristãos são identificados por sua relação com Cristo. Espera-se que haja entre esses cristãos amor, cooperação, disposição para o serviço a Deus etc. Mas, não se pode pedir uniformidade, como se todos devessem pensar em todos os aspectos de maneira igual. Jesus nunca fundou uma "Igreja McDonald", isto é, igual em todas as partes do mundo. Na Igreja Primitiva nem todos estavam de acordo em relação a algumas questões. Para alguns o vegetarianismo devia ser o ideal; para outros, não (Romanos 14); alguns comiam carne sacrificada aos ídolos, outros achavam isso um absurdo (1ª Coríntios 8). Embora o apóstolo Paulo tivesse opinião formada sobre os assuntos em questão, nunca quis que todos pensassem como ele; antes, pediu que cada um respeitasse o ponto de vista uns dos outros. Quando pediu aos coríntios (1ª Coríntios 1:10) que não houvesse divisões entre eles, mas que fossem unidos num só pensamento e num só propósito, tencionava acabar com as divisões do tipo: "Eu sou de Paulo", "Eu sou de Pedro" etc. Estas brigas faziam com que perdessem de vista o fato de que todos pertencem a Cristo, pois não foi Paulo nem Pedro que morreram crucificados por eles, mas o próprio Jesus Cristo. Sendo assim, a unidade deve girar em torno de Cristo, e não na quantidade de água para se ministrar o batismo; não na forma de governo, se congregacional ou episcopal, mas no fato de que Cristo é o nosso Rei e Senhor, sendo seu domínio, o teocrático, o que de fato deve prevalecer.



5. Discipulado

            A Igreja de Cristo Internacional ensina que, assim como Jesus "controlava" a vida dos apóstolos em todos os aspectos, da mesma forma deve ocorrer com alguém que se torna membro da ICI. O novo adepto ficará aos cuidados de um discipulador, a quem deverá prestar contas de tudo o que fizer ou desejar fazer; deverá até mesmo confessar seus pecados diariamente, baseando-se em Tiago 5:16, que diz: "Confessem os seus pecados uns aos outros". Uma vez discípulo, discípulo para sempre. É Deus no céu e o discipulador na terra. O discípulo deve obedecer em tudo: Deve estar disposto a ir a qualquer lugar, deixando qualquer coisa, incluindo emprego, familiares, faculdade, enfim, tudo o que o discipulador determinar. Deve prestar contas de seu dízimo, de suas atividades de proselitismo: "Quantos você convidou? Por que não convidou? Quando vai convidar? Você deve fazer isso..." etc. Enfim, adeus, liberdade! Esse proceder causou muita polêmica no início do movimento. Em 1992 Kip McKean reconheceu que havia exagerado na sua visão do discipulado. Ele declarou: Estava errado em alguns dos meus pensamentos sobre a autoridade bíblica. Eu achava que os líderes poderiam chamar as pessoas para lhes obedecerem e seguirem-nos em todas as áreas. Isto estava incorreto. Sinto-me muito mal pelas pessoas que foram prejudicadas por esse erro. O reconhecimento da parte de McKean de que prejudicou muita gente poderia ser uma atitude elogiável, caso tal prática tivesse sido eliminada da ICI. Todavia, isso não ocorreu. Portanto, não se engane com a aparente retratação de McKean, pois essa dependência do discipulando em relação ao discipulador que deve acompanhá-lo em todas as áreas de sua vida ainda existe e continua a prejudicar psicologicamente as pessoas na Igreja de Cristo Internacional.

5.1. A Bíblia e o verdadeiro discipulado


            Para início de conversa, convém lembrar que em nenhuma parte do Novo Testamento encontra-se o tipo de discipulado exposto pela Igreja Internacional de Cristo. Segundo a Sagrada Escritura, o cristão é um discípulo (maqhthV), sim, mas exclusivamente de Cristo. A Bíblia apresenta diversas relações que existe entre Cristo e seus seguidores:
  • Ele é o Senhor e nós somos seus servos (Mateus 10:24, 25);
  • Ele é o Pastor e nós suas ovelhas (João 10:14-16);
  • Ele é a Videira e nós somos os galhos (João 15:5);
  • Ele é a Cabeça e nós somos o seu corpo (Efésios 5:23; 1ª Coríntios 12:12-17);
  • Ele é o Mestre (didaskaloV – didaskalos) e nós somos seus discípulos (Mateus 8:23; 9:10; 10:43; 15:32; 16:13, 21, 24; 19:23; 24:1). Assim, a relação sempre é a de Mestre e discípulo, nunca de discipulador com discípulo (Mateus 9:11; 10:24). Aliás, a palavra "discípulo" aparece cerca de 300 vezes na Bíblia (18 no singular e 295 no plural); contudo, nunca aparece o termo "discipulador".
           Vale a pena lembrar que há em sentido estrito somente um Mestre, com o qual partilhamos a relação de discípulo (Mateus 28:8), que é Jesus Cristo. Quantos aos "mestres" dos quais a Bíblia fala (Atos 13:1; Efésios 4:11), trata-se de homens qualificados para ensinar os discípulos de Cristo, a Igreja como um todo. Mas não está em jogo o que se pratica na Igreja de Cristo Internacional, pois todos devem ser "mestres" (discipuladores), uma vez que todos têm discípulos. E mais. Segundo a Bíblia, o ensinar é um dom concedido a poucos, e não a todos (Romanos 12:4-8 – compare com Atos 13;1; 1ª Coríntios 12:28 e Efésios 4:11). Além disso, de acordo com a Escritura, nenhum crente deve ter domínio sobre a fé do outro (2ª Coríntios 1:24 ; 1ª Pedro 3:5; Romanos 14), pois os discípulos são de Cristo (João 8:31). Este é o verdadeiro discipulado bíblico. O que for além disso é distorção do verdadeiro discipulado.

6. A Bíblia e a confissão de pecados

           Quanto à confissão de pecados, que o discípulo na Igreja de Cristo Internacional é obrigado a efetuar, baseando-se em Tiago 5;16, que diz "confessem os seus pecados uns aos outros", convém lembrar que este é um ato recíproco, nunca unilateral. Nessa igreja o discipulador ouve o discípulo confessar seus pecados, mas não confessa os seus próprios ao discípulo, uma vez que o discipulador tem, também, seu próprio discipulador. Ora, o "confessem os seus pecados uns aos outros" indica reciprocidade, ou seja, é toma-lá-dá-cá, do mesmo modo que encontramos na Bíblia:
  • "Amai-vos uns aos outros" (João 13:34; 15:12, 17; Romanos 12:10; 1ª Tessalonicenses 4:9; 1ª Pedro 1:22; 1ª João 3:11, 23; 4:7, 12; 2ªJoão 1:5).
  • "Perdoai-vos uns aos outros" (Efésios 4:32; Colossenses 3:13)
  • "Suportai-vos uns aos outros" (Efésios 4:2; Colossenses 3:13)
  • "Aconselhai-vos uns aos outros" (Romanos 15:14; Colossenses 3:16)
           Além disso, encontramos na Bíblia que a confissão deve ser feita sobretudo a Deus, que, por meio de Jesus Cristo, nosso Advogado junto ao Pai, nos perdoará de nossos pecados (1ª João 1:7 a 2:2).



7. Outras informações

             Escrituras: Afirmam usar somente a Bíblia, sua única regra de fé e prática. Seus membros, todavia, não podem interpretá-la diferentemente de McKean (mesmo que esteja errado). Aliás, para eles, seu fundador nunca está equivocado. Suas palavras são inquestionáveis. É considerado o "ungido" de Deus. A Bíblia é usada, sem dúvida; contudo, é comum usar seus versículos fora de contexto para dar confiabilidade aos ensinamentos do movimento. Sua tradução predileta é a Bíblia na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil. Deus Defendem o conceito bíblico sobre a doutrina da Trindade. Jesus Crêem em sua humanidade e divindade, tal como ensinam as Escrituras cristãs; todavia, a ênfase não está em Jesus como objeto de nossa fé, mas sim, como um exemplo a ser seguido. Espírito Santo Advogam o conceito bíblico, ou seja, o Espírito Santo é um ser pessoal, sendo em sua essência um só Deus com o Pai e o Filho. Salvação Crêem que somente na ICI há verdadeiros discípulos de Cristo, os únicos que fazem parte do Reino de Deus na terra. Assim, sua salvação está ligada ao fato de fazerem parte do movimento, que exige obediência irrestrita. Qualquer dúvida ou questionamento deve ser evitado, pois conduzirá o indivíduo à perda de sua alma. Vida após a morte Dividem a humanidade em dois grupos: os justos (membros da ICI) que vão para o céu e os ímpios que vão para o inferno. Como "ímpios" designam todos os que não fazem parte da ICI, mesmo que afirmem ser cristãos ou discípulos de Cristo. Informações adicionais · Segundo McKean, não há pecado original. Foi inventado no séc. VII d.C. para apoiar o batismo infantil. Cada pessoa é responsável pela sua própria vida; portanto, a culpa pelo pecado de Adão não foi transmitida. A natureza humana é capaz, por si só, sem nenhum auxilio sobrenatural, de evitar o pecado e praticar a vontade de Deus. Assim, quando alguém entra na ICI pode arrepender-se de seus pecados e mudar seu padrão de vida sem a intervenção direta do Espírito Santo. Esse ensino é conhecido na Teologia como pelagianismo. Demonstrando a mudança, então é batizada para receber o Espírito Santo e ser salva.



8. Conclusão

            Não se pode negar a sinceridade dos adeptos da Igreja de Cristo Internacional. Seguem fielmente as ordenanças de sua organização religiosa; contudo, precisam aprender que somente a sinceridade não basta. Certa vez, Jesus disse: "...Vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar serviço a Deus" (João 16:2). Tais homens matadores de cristãos, em sua sinceridade, talvez achassem que estivessem servindo fielmente a Deus; todavia, agiam de modo contrário à Sua vontade. É como diz Provérbios 14;12: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz á morte". Nenhuma organização religiosa, por melhor que pareça ser, nem nada do que venhamos a praticar, mesmo nos atendo aos usos e costumes impostos por certas igrejas ou religiões e por tradições puramente humanas, não nos darão em troca a vida eterna. Somos salvos pela fé no Filho de Deus, Jesus. Nossa plenitude está nele. (Efésios 2:8-10; Colossenses 1:13, 14; 2:10-13).