APASCENTANDO OVELHAS OU ENTRETENDO BODES?
Algo mal acontece no declarado arraial do Senhor, tão grosseiro em seu descaramento, que até os cegos espirituais dificilmente deixarão de perceber. Este mal tem se desenvolvido em proporções anormais durante os últimos anos e vem agindo como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente fez algo tão engenhoso quanto sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo.
Da pregação ousada, como faziam os Puritanos, a igreja foi baixando o tom de seu testemunho; depois, tolerou e justificou as frivolidades de sua época, para, em seguida, começar a aceitá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.
Meu primeiro argumento é este: as Escrituras não afirmam, em parte alguma, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela?
"Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura." (Mc 16:15) Isto está bastante claro. Se Cristo tivesse acrescentado: "E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho", assim teria acontecido. No entanto, não se encontram tais palavras. Nem sequer lhe ocorreram.
E mais: "Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres" (Ef 4:11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.
Em segundo lugar, prover distração está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? "Vós sois o sal da terra", algo que o mundo desprezará, não o "docinho". Pungente e curta foi a afirmação de nosso Senhor: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos". Ele estava falando com terrível seriedade!
Se Cristo tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis em seu ministério ele teria sido mais popular, ao invés de as pessoas O deixarem por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, não O vejo dizendo: "Pedro, corra atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza gostarão desse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas a qualquer custo!"
Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou entretê-los.
Pesquisaremos em vão as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício deste evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: "Retirai-vos, separai-vos e mantenham-se afastados!" É evidente a ausência de qualquer coisa que tenha aparência de brincadeira. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam qualquer outra arma.
Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: "Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da inocente recreação, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos." Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição, foram por todo lugar lugar pregando o evangelho. Eles "transtornaram o mundo." (Atos 17:6) Essa é a única diferença! Senhor, limpe a igreja de todo o lixo e futilidade que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta ao método dos apóstolos.
Por último, a missão de prover entretenimento falha em alcançar os fins desejados. Ela causa danos entre os novos convertidos. Permita que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! Ninguém irá responder! A razão é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros.
A necessidade imediata para o atual ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma é resultado da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, de tal forma entendida e experimenta, que ponha os homens em chamas.
Alertar os Cristãos a cerca das falsas doutrinas e ensinamentos errados sobre a interpretação Bíblica
terça-feira, 8 de abril de 2014
O QUE NÃO É O EVANGELHO
"Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" - esta foi a ordem deixada pelo Senhor Jesus no momento de sua partida. Desde então, muitos discípulos de Cristo tem saído pelo mundo afora e falado a toda criatura. Mas será que todos estão, de fato, pregando corretamente o evangelho?
Não basta ir e falar qualquer coisa em nome de Jesus - é preciso dizer a mensagem correta. Falhar nesse ponto é mais do que prestar um desserviço ao reino de Deus - é trazer um prejuízo de conseqüências eternas, tanto para o mensageiro, quanto para os que recebem a mensagem.
Esse é um assunto tão grave, que Paulo, em sua carta aos Gálatas, considera anátema (amaldiçoado) aquele que perverter a mensagem do evangelho (Gl 1:6-9). Logo em seguida, o apóstolo questiona: "Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo." Com isso, subentende-se que alguns estavam pregando um evangelho agradável aos homens, ou centrado no próprio homem e não em Cristo.
Apesar de evangelho significar "boas novas", ou "alegres notícias", isso não quer dizer que pregar o evangelho seja alegrar os pecadores. A finalidade do evangelho não é, de forma alguma, massagear o ego das pessoas. Antes, pelo contrário, a verdadeira mensagem do evangelho faz oposição ao sistema deste mundo e "acaba com a festa" daqueles que vivem como se Deus não existisse.
No entanto, muitos pregadores da atualidade pregam justamente aquilo que as pessoas querem ouvir, a fim de agradá-las, e não o que precisam ouvir para salvá-las. A triste realidade é que Cristo tem sido anunciado mais como a "solução" de problemas do que como o Salvador de nossas vidas. Com isso, reduzem nosso amado Jesus a um "garoto propaganda" e o evangelho a um produto de mercado, que serve para mil e uma utilidades.
"E esta é a promessa que ele mesmo nos fez, a vida eterna. Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar." (1 João 2:25-26)
Promessas de saúde, riqueza, fama e poder tem sido anunciadas como se isso fosse o evangelho. "Aceite Jesus e você terá direito a essas bênçãos" - esse é o falso evangelho que tem sido anunciado para se atrair um número cada vez maior de pessoas egoístas, materialistas e interesseiras. Como não faltam pessoas assim no mundo, as igrejas que prometem essas coisas enchem mais rapidamente, atraindo um público que não está nem um pouco disposto a renúncias, mas muito interessado em conquistas.
E é justamente a pregação desse falso evangelho, que não converte vidas, a razão pela qual a igreja não tem mais incomodado o mundo. Exemplo disso é o número cada vez maior de cantores evangélicos convidados para cantar em programas mundanos, ou o fato de cruzadas evangelísticas ganharem cobertura em canais de TV que anteriormente perseguiam os cristãos. E a maioria dos crentes está tão cega que considera esse aplauso do mundo uma conquista, quando na verdade é o sintoma de que algo não vai nada bem com a igreja.
"Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas." (Lucas 6:26)
Portanto, o verdadeiro evangelho não trás alegria para o perdido e nem recebe os aplausos do mundo, mas trás o perdido para a verdadeira alegria e o liberta das paixões desse mundo.
O falso evangelho pode até alegrar as pessoas por um tempo, com suas expectativas temporais, mas não lhes concede a verdadeira e eterna felicidade, que está em desfrutarmos da plena comunhão com Deus por meio de Jesus Cristo, no qual há verdadeira e eterna vida.
O QUE É O EVANGELHO
O evangelho de Jesus não é algo complexo, de difícil compreensão. Porém, ao mesmo tempo em que o evangelho é simples, a sua definição precisa ser elaborada com cautela.
O evangelho é simples no sentido de que até uma criança pode compreender essa mensagem de boas novas. Aliás, "boas novas" é a tradução literal do termo grego "evangelho". Mas dizer simplesmente que "o evangelho é Jesus", ainda que não esteja errado, pode confundir mais do que esclarecer. Por exemplo, uma pessoa pode estar pregando sobre Jesus e não estar pregando o evangelho. Aliás, isso é o que mais tem acontecido hoje em dia!
A necessidade de cautela para se definir o evangelho foi comentada por John Piper, numa de suas obras: "Um extremo é definir o evangelho cristão em termos tão amplos que chamaremos de evangelho tudo o que é bom na mensagem cristã. O outro extremo seria definir o evangelho cristão em termos tão restritos que a definição não faça justiça a todos os usos do Novo Testamento."[1]
Nessa busca por uma definição equilibrada, o que não podemos perder de vista é o fato de que o evangelho é uma mensagem, uma proclamação ao mundo. Na verdade, é a notícia mais importante, maravilhosa e urgente de todos os tempos, para todas as épocas e para todos os homens. O conteúdo dessa mensagem pode ser resumido, mas seus pilares não podem ser alterados, ou removidos.
Creio que o exame cuidadoso das pregações apostólicas e dos textos que tratam do evangelho nas epístolas seja o melhor caminho para se chegar a uma definição bíblica do evangelho. Foi com base nesse acurado exame, e após muito pedir auxílio do alto em oração, que elaborei uma definição resumida do evangelho. Trata-se de uma única sentença, que reúne as grandes verdades da boa nova:
A misericordiosa graça de Deus, o senhorio de Cristo, a centralidade da cruz, a ressurreição, a necessidade do arrependimento, a justificação pela fé em Jesus, a comunhão do Espírito Santo, a regeneração, o alerta do juízo final, a salvação e herança dos santos - cada um desses pontos, ou a grande maioria deles, estavam presentes em cada pregação apostólica (confira no livro de Atos 2:14-41; 3:12-26; 4:8-12; 5:29-32; 10:34-43; 13:16-41; 17:22-31).
Porém, como se percebe, esses pilares do evangelho estão ausentes da maioria dos púlpitos hoje em dia. Pouquíssimas pregações contêm sequer a metade do conteúdo das pregações apostólicas, o que é muito grave, pois o evangelho está sendo diluído e perdendo seu poder para conversão de vidas. Ora, o Espírito Santo, que convence do pecado, da justiça e do juízo, não tem compromisso com a nossa palavra, mas com a palavra de Deus (João 16:7-13). Quando um servo fiel prega o verdadeiro evangelho, que é segundo a palavra de Deus, o Espírito Santo entra em ação e convence o pecador da sua necessidade de Cristo.
Mas há também muitos outros versículos no Novo Testamento, além das pregações em Atos, que concentram boa parte do conteúdo do evangelho. Aliás, memorizar esses versículos, que transcrevo abaixo, é de grande utilidade, pois podem ser mencionados não apenas numa pregação, mas também no evangelismo pessoal.
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)
"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus." (Romanos 3:23-26)
"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira." (Romanos 5:8-9)
"Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." (1 Coríntios 15:1-4)
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus." (2 Coríntios 5:19-21)
"Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2:4-10)
"Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras." (Tito 2:11-14)
"Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna." (Tito 3:4-7)
"Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus" (1 Pedro 3:18a)
A relação de versículos acima, que não é exaustiva, nos revela que o evangelho não tem por finalidade conduzir as pessoas a conquistas materiais, e sim conduzi-las ao próprio Deus, por meio de Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Revela-nos também que a mesma verdade do evangelho pode ser dita de várias formas diferentes, contanto que não se altere sua doutrina.
Como exemplo disso, apresento algumas definições contemporâneas do evangelho:
"O Evangelho é a boa nova sobre a vinda e a obra de Jesus." (Walter McAlister) [3]
"O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz" (John Stott) [4]
"A mensagem central da Bíblia é o evangelho, ou boas notícias sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo." (Mark Driscoll) [5]
"O evangelho é as boas novas ou as notícias alegres de salvação ou da libertação da penalidade, do poder e da presença do pecado, inteira e exclusivamente através da pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo" (John A. Kohler, III) [6]
"O essencial do evangelho é ‘Cristo morreu pelos nossos pecados'." (Executiva da IPB) [7]
Como se percebe, existe um ponto de convergência em todas essas definições do evangelho: Jesus e sua obra consumada na cruz. Portanto, isso é o que jamais pode faltar em qualquer exposição do evangelho, razão pela qual Paulo afirmou aos coríntios: "decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado." (1 Coríntios 2:2) Tal como o próprio Senhor profetizou a seu respeito: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo." (João 12:32)
Que, a exemplo de Paulo, rejeitemos como anátema o falso evangelho, que conduz ao próprio ego, ou a líderes humanos e suas instituições. Mas que vivamos no verdadeiro evangelho, de uma plena comunhão com Deus e amor ao próximo, por meio de Jesus Cristo, que consumou na cruz para sempre a nossa salvação. Isso sim é boa nova, pois esse é o evangelho!
"Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!" (Romanos 11:36)
O evangelho de Jesus não é algo complexo, de difícil compreensão. Porém, ao mesmo tempo em que o evangelho é simples, a sua definição precisa ser elaborada com cautela.
O evangelho é simples no sentido de que até uma criança pode compreender essa mensagem de boas novas. Aliás, "boas novas" é a tradução literal do termo grego "evangelho". Mas dizer simplesmente que "o evangelho é Jesus", ainda que não esteja errado, pode confundir mais do que esclarecer. Por exemplo, uma pessoa pode estar pregando sobre Jesus e não estar pregando o evangelho. Aliás, isso é o que mais tem acontecido hoje em dia!
A necessidade de cautela para se definir o evangelho foi comentada por John Piper, numa de suas obras: "Um extremo é definir o evangelho cristão em termos tão amplos que chamaremos de evangelho tudo o que é bom na mensagem cristã. O outro extremo seria definir o evangelho cristão em termos tão restritos que a definição não faça justiça a todos os usos do Novo Testamento."[1]
Nessa busca por uma definição equilibrada, o que não podemos perder de vista é o fato de que o evangelho é uma mensagem, uma proclamação ao mundo. Na verdade, é a notícia mais importante, maravilhosa e urgente de todos os tempos, para todas as épocas e para todos os homens. O conteúdo dessa mensagem pode ser resumido, mas seus pilares não podem ser alterados, ou removidos.
Creio que o exame cuidadoso das pregações apostólicas e dos textos que tratam do evangelho nas epístolas seja o melhor caminho para se chegar a uma definição bíblica do evangelho. Foi com base nesse acurado exame, e após muito pedir auxílio do alto em oração, que elaborei uma definição resumida do evangelho. Trata-se de uma única sentença, que reúne as grandes verdades da boa nova:
Deus veio ao mundo por amor
na pessoa de seu único Filho, Jesus Cristo,
para morrer na cruz
pelo perdão dos pecados
de todos que a ele se convertem
em arrependimento
e fé na sua ressurreição,
a fim de que tenham comunhão com Deus
como filhos amados,
sejam salvos do juízo final
e tenham vida eterna e herança
em seu reino. [2]
Cada linha desta sentença expressa grandiosas verdades. O conjunto delas perfaz a mensagem completa do evangelho. Uma mensagem maravilhosa, alegre, de reconciliação com Deus por meio de Jesus! Quanto mais destas verdades houver numa pregação, mais próxima esta será de uma genuína pregação do evangelho. Por outro lado, quanto mais forem esquecidas, mais distante o pregador estará do "poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16).na pessoa de seu único Filho, Jesus Cristo,
para morrer na cruz
pelo perdão dos pecados
de todos que a ele se convertem
em arrependimento
e fé na sua ressurreição,
a fim de que tenham comunhão com Deus
como filhos amados,
sejam salvos do juízo final
e tenham vida eterna e herança
em seu reino. [2]
A misericordiosa graça de Deus, o senhorio de Cristo, a centralidade da cruz, a ressurreição, a necessidade do arrependimento, a justificação pela fé em Jesus, a comunhão do Espírito Santo, a regeneração, o alerta do juízo final, a salvação e herança dos santos - cada um desses pontos, ou a grande maioria deles, estavam presentes em cada pregação apostólica (confira no livro de Atos 2:14-41; 3:12-26; 4:8-12; 5:29-32; 10:34-43; 13:16-41; 17:22-31).
Porém, como se percebe, esses pilares do evangelho estão ausentes da maioria dos púlpitos hoje em dia. Pouquíssimas pregações contêm sequer a metade do conteúdo das pregações apostólicas, o que é muito grave, pois o evangelho está sendo diluído e perdendo seu poder para conversão de vidas. Ora, o Espírito Santo, que convence do pecado, da justiça e do juízo, não tem compromisso com a nossa palavra, mas com a palavra de Deus (João 16:7-13). Quando um servo fiel prega o verdadeiro evangelho, que é segundo a palavra de Deus, o Espírito Santo entra em ação e convence o pecador da sua necessidade de Cristo.
Mas há também muitos outros versículos no Novo Testamento, além das pregações em Atos, que concentram boa parte do conteúdo do evangelho. Aliás, memorizar esses versículos, que transcrevo abaixo, é de grande utilidade, pois podem ser mencionados não apenas numa pregação, mas também no evangelismo pessoal.
"Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)
"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus." (Romanos 3:23-26)
"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira." (Romanos 5:8-9)
"Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras." (1 Coríntios 15:1-4)
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus." (2 Coríntios 5:19-21)
"Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2:4-10)
"Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras." (Tito 2:11-14)
"Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna." (Tito 3:4-7)
"Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus" (1 Pedro 3:18a)
A relação de versículos acima, que não é exaustiva, nos revela que o evangelho não tem por finalidade conduzir as pessoas a conquistas materiais, e sim conduzi-las ao próprio Deus, por meio de Jesus Cristo, único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Revela-nos também que a mesma verdade do evangelho pode ser dita de várias formas diferentes, contanto que não se altere sua doutrina.
Como exemplo disso, apresento algumas definições contemporâneas do evangelho:
"O Evangelho é a boa nova sobre a vinda e a obra de Jesus." (Walter McAlister) [3]
"O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz" (John Stott) [4]
"A mensagem central da Bíblia é o evangelho, ou boas notícias sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo." (Mark Driscoll) [5]
"O evangelho é as boas novas ou as notícias alegres de salvação ou da libertação da penalidade, do poder e da presença do pecado, inteira e exclusivamente através da pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo" (John A. Kohler, III) [6]
"O essencial do evangelho é ‘Cristo morreu pelos nossos pecados'." (Executiva da IPB) [7]
Como se percebe, existe um ponto de convergência em todas essas definições do evangelho: Jesus e sua obra consumada na cruz. Portanto, isso é o que jamais pode faltar em qualquer exposição do evangelho, razão pela qual Paulo afirmou aos coríntios: "decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado." (1 Coríntios 2:2) Tal como o próprio Senhor profetizou a seu respeito: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo." (João 12:32)
Que, a exemplo de Paulo, rejeitemos como anátema o falso evangelho, que conduz ao próprio ego, ou a líderes humanos e suas instituições. Mas que vivamos no verdadeiro evangelho, de uma plena comunhão com Deus e amor ao próximo, por meio de Jesus Cristo, que consumou na cruz para sempre a nossa salvação. Isso sim é boa nova, pois esse é o evangelho!
"Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!" (Romanos 11:36)
TEXTO FORA DE CONTEXTO
A frase é famosa no meio teológico: "texto fora de contexto é pretexto para heresia". A realidade, porém, é que poucos tem o cuidado de averiguar o contexto no qual se encontra um versículo. Muitos pregadores, mesmo com formação em teologia, preparam seus esboços sem nenhuma preocupação em dizer aquilo que o autor do texto bíblico queria dizer. E isto é mais comum do que se imagina!
Como prova do que estou afirmando, deixo três exemplos de versículos famosos, mas que, quando usados fora de contexto, dão margem para heresias. Que isto sirva de alerta para se verificar o contexto bíblico de qualquer mensagem, principalmente as que são baseadas em apenas um versículo da Bíblia.
Tudo posso naquele que me fortalece
Muito provavelmente, este é o versículo mais distorcido. Tirado de seu contexto, muitos concluem tratar-se de uma frase triunfalista, de alguém que pode conquistar seus alvos, que pode obter todas as coisas.
Por esta razão, este versículo é o mais repetido pelos pregadores da teologia da prosperidade, que apregoam a idéia do super crente. "Você pode ter saúde, você pode ter dinheiro, você pode ter sucesso... tudo posso naquele que me fortalece!" esbravejam os falsos profetas.
Mas o apóstolo Paulo não estava se referindo a conquistar ou a se obter algo. Antes, muito pelo contrário! Vejamos o contexto:
"Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação." (Filipenses 4:11-14 RA)
Quando Paulo escreveu o famoso "tudo posso" ele passava por grande tribulação, pois estava encarcerado. Portanto, como se percebe na leitura do contexto, a interpretação correta é: "tudo posso suportar".
Quer seja humilhado, ou honrado, na fartura, ou na fome, tanto em situação de abundância, quanto de escassez, "tudo posso naquele que me fortalece".
Pedis e não recebeis porque pedis mal
Por mais de uma vez já ouvi pregadores usarem este versículo para ensinar o seguinte:
"Você precisa ser específico no seu pedido. Se você pede a Deus um carro, diga qual a marca, o modelo, se é completo; se está pedindo uma casa, especifique o bairro, com quantos quartos e banheiros, se quer piscina e churrasqueira; ou seja, você não tem recebido nada disso porque não tem pedido direito. Pedis e não recebeis porque pedis mal!"
Este tipo de ensinamento é ridículo e não tem base nas Escrituras. E nem é preciso examinar o contexto para se revelar a farsa. Basta concluir a leitura do próprio versículo:
"pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres." (Tiago 4:3 RA)
A parte final, que diz "para esbanjardes em vossos prazeres" é omitida por aqueles que desejam ensinar o contrário do que a Bíblia ensina.
Deus não responde orações de pessoas egoístas e mundanas. Nem sequer as ouve (Is 58:3; Jr 14:12-16) Mas, a fim de que ainda não reste nenhuma dúvida, vejamos então o contexto:
"De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tiago 4:1-4 RA)
Somos mais do que vencedores
Usado fora de seu contexto, esta frase transmite a falsa idéia de que a vida do crente "é só vitória", como costumam dizer alguns.
Mas o apóstolo Paulo especificou em quais situações é que somos mais do que vencedores. O versículo completo diz o seguinte:
"Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou." (Romanos 8:37 RC)
"Em todas estas coisas..." Quais coisas?
A resposta, bem como o entendimento para este versículo, está em seu contexto:
"Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou." (Romanos 8:35-37 RC)
Ao contrário de uma vida isenta de lutas e sofrimento, o apóstolo Paulo declara que somos mais do que vencedores nas seguintes circunstâncias: Tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, ou espada.
E, qual a nossa vitória, em meio a tantas adversidades? Novamente, o contexto nos responderá:
"Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!" (Romanos 8:37-39 RC)
A nossa grande vitória é não duvidar deste amor que Deus tem por nós, provado em nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda que venha tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, ou mesmo a morte, nada poderá nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!
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