domingo, 2 de março de 2014


Benção Apostólica?

Aos poucos, cada vez mais, nós batistas vamos distanciando a nossa prática do nosso discurso. Explico. O nosso discurso principal é que temos a Bíblia como nossa única fonte de regras de conduta e prática cristã. Não aceitamos costumes nem tradições que não sejam bíblicas.
Mas temos praticado tantas coisas em nossos cultos que não são ensinadas na Bíblia. E olha que não estou falando de dança, nem de palmas, nem de dramaturgias e tantas outras coisas que sempre combatemos. Tenho em minha mente agora, neste momento em que estou escrevendo, a famosa chamada "Bênção Apostólica".
Cresci em uma igreja batista e depois fui membro de várias outras. Até um certo tempo eu não via nenhum pastor levantando as mãos e "impondo" uma bênção apostólica. Só na minha juventude mais avançada comecei a ver isso. A primeira vez que vi, crítico como sou, desejei saber onde estava isso na Bíblia, que existia uma bênção apostólica e que só os pastores poderiam impetrá-la. Fui conferir e não encontrei. Entrei na biblioteca de meu pai e procurei muito, mas não encontrei. Desisti e fui perguntar a ele. Me respondeu que era apenas uma saudação de despedida do apóstolo Paulo no final da sua segunda carta aos Coríntios. Fui conferir e estava lá. Isto é, estavam lá os dizeres, mas não tinha nada a respeito de ser uma bênção apostólica que só os pastores poderiam impetrar.
Continuei curioso. Os pastores não são apóstolos. Sempre aprendi que apóstolos de Cristo foram somente doze. Pastores são bispos, são presbíteros, mas não são apóstolos. Então por que só eles poderiam impetrar a "benção apostólica" como se fossem sucessores dos apóstolos? Para isso não encontrei resposta até hoje.
Fiquei em dificuldades no dia da minha consagração (que muitos hoje chamam de ordenação, como se passássemos a fazer parte de uma ordem) porque estava no programa que o novel pastor impetraria a "bênção apostólica." Dificuldades porque não acreditava naquilo e dificuldade porque não decorara as palavras que abençoariam o povo. Resolvi a questão fazendo uma oração em que pedia a Deus que estivesse sempre manifestando a graça de Jesus sobre todos, que Deus estivesse sempre derramando o amor dele sobre todos nós e que estivéssemos sempre desfrutando da comunhão do Espírito Santo. Pedi e me despedi do Pai afirmando que estava pedindo em nome de Jesus. Não tenho coração de fazer uma oração em meu próprio nome, ou como se fosse um apóstolo, como aguém que tem algum tipo de direito de abençoar o povo. Procurei fazer o que creio que o apóstolo Paulo fez: manifestou o seu desejo de que aquela igreja estivesse desfrutando plenamente das manifestações de Deus.
Até hoje não consigo impetrar bênção apostólica.
Pr Dinelcir de Souza Lima
batistastradicionais.blogspot.com
SEJA SEMPRE UM BEREANO!

            ATOS 17.11













Estórias Para Ovelha Não Dormir

"Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas." (2 Tim:4.3,4)

Durante minha infância e parte da adolescência, tendo pouco conhecimento bíblico, me impressionava com estórias e lendas sobre supostos vampiros, lobisomens, chupa-cabras e outras coisas do gênero. A medida que fui compreendendo melhor as coisas de Deus através do estudo da Bíblia, fui amadurecendo espiritualmente. Muito me surpreende, que hoje em dia os evangélicos estão dando crédito à inúmeras superstições. E pior ainda, estão aprendendo isso nas igrejas.

As estórias de ex-satanistas que são contadas em certos livros, como: Ele veio para libertar os cativos, de Rebecca Brown e Filho do Fogo, de Daniel Mastral são um misto de terror, ficção científica e contos de fadas. As coisas que esse Daniel Mastral afirma em seus livros e seminários parecem extraídas diretamente do  filme Van Helsing. Quem viu o filme sabe muito bem do que estou falando.

Em boa parte das igrejas brasileiras que estão na "visão de batalha espiritual", os "libertadores" que fizeram seminários com Mastral, Itioka, Brown e cia, estão achando que Caim virou Vampiro, que estão se abrindo "portais dimensionais", que existem lobisomens, dentre outras lendas e superstições absurdas. Acreditam inclusive que o tal Eduardo Daniel Mastral (cujo nome real é Marcelo Agostinho Ferreira), teve seu código genético modificado pelos satanistas, que também teriam feito um clone dele. Caro leitor e irmão em Cristo, você consegue acreditar numa coisa dessas? Como diz a Escritura Sagrada, o povo não suporta a são doutrina e está se voltando às fábulas. Esses contos da carochinha gospel soam muito mais agradáveis aos ouvidos do nosso povo místico e supersticioso do que o simples e real Evangelho de Cristo. Hoje em dia ninguém quer mais ouvir aquela história do filho de Deus que foi pobre, sofreu, morreu pelos pecados da humanidade e ressuscitou ao terceiro dia. Preferem mesmo as estórias dos "ex-super soldados" do anticristo, que ficam horas falando sobre os "terríveis poderes do diabo" e da "irmandade do Marlon".

Enquanto as fábulas profanas que estes doutores em "mundo espiritual" ensinam, dizem que tenho que passar por um processo de "libertação" para me livrar de maldições e espíritos familiares,  as Escrituras Sagradas me garantem que Cristo me livrou de toda maldição a partir do momento que nasci de novo. Enquanto alguns "libertadores" gostam de entrevistar demônios e a partir desses diálogos construir doutrinas, meu Senhor me disse que o diabo é mentiroso e que dele não procede verdade.

Inúmeros crentes já leram incontáveis livros da Rebecca Brown, do Daniel Mastral ou da Neuza Itioka. A maioria deles nunca leu a Bíblia inteira ou sequer estudou as doutrinas fundamentais da fé cristã, ficando facilmente expostos ao engano.

Querem saber de uma coisa? Acho que vou entrar na moda também. Vou sair pelas ruas buscando sinais de vampiros, lobisomens, zumbis, bicho papão ou de espíritos humanos invasores (fantasmas) na minha casa, que segundo a Rebecca Brown, não podem ser expulsos pelo nome de Jesus. Assim que localizar as evidencias de tais seres que trabalham para a "irmandade", pegarei o telefone e chamarei os CAÇA-FANTASMAS!

Francisco Belvedere Neto

Não Devemos Julgar?

A cada dia fico mais indignado com as heresias que estão sendo pregadas em muitas igrejas por aí e com tantas distorções Bíblicas em nosso meio. O Evangelho genuíno está sendo deixado de lado e sendo trocado por uma "teologia popular" voltada ao misticismo, aos modismos, as falsificações bíblicas e fetiches populares. Apóstolos, pai-póstolos, gurus gospel tem surgido por aí trazendo um "outro evangelho". A Palavra de Deus em sua essência é trocada por modismos, por hierarquias eclesiásticas, por dinheiro e por interesses particulares destes "super crentes". São tantos "shofás proféticos" que não agüento mais tanta barulheira. É tanto "mantra gospel" e hinos repletos de heresias e erros de português que meus ouvidos já estão estourando; é tanta coreografia que meu senso de racionalidade clama por socorro! Quebra de maldições hereditárias onde o crente nunca se converte de verdade, sessões de descarrego, sabonetes de arruda, rosa ungida, sal grosso... é tanto "copo d'água consagrado" que dá até vontade de ir ao banheiro. Unções especiais, urros, gritos, histerias, regressões, encontros tremendos, pastores poderosos, super apóstolos, e até horóscopos e numerologia gospel - onde alguns crentes mudam ou retiram/acrescentam letras ao seu nome, acreditando que o mesmo exerça alguma influência (negativa ou positiva) em suas vidas.

Diante de tudo isso, muitos cristãos infelizmente tem se calado para tanta heresia, pois existe um conceito errado de que não devemos julgar nada, que não é o nosso papel estar julgando o que ocorre com estas pessoas, principalmente se vamos falar de algum "líder" que esteja em um comportamento que vai contra as Escrituras. Resumindo, querem nos calar mesmo! Já não bastasse a perseguição contra os cristãos que hoje em dia ocorre em muitos lugares no mundo, inclusive no Brasil, ainda temos que agüentar a distorção bíblica de que jamais deveremos abrir a boca contra o pastor x, apóstolo y, pois são os "ungidos de Deus". Nestes ninguém fala, até Davi foi repreendido pelo profeta Natan, mas estes líderes contemporâneos não podem ser repreendidos por algum erro ou heresia. É proibido pensar, é proibido julgar! Muitas mentes estão sendo cauterizadas por esta "nova doutrina".

Existem algumas passagens Bíblicas que muitos cristãos têm interpretado erroneamente a respeito de julgamento. Meu compromisso neste artigo é desmistificar e esclarecer o Povo de Deus de que não devemos nos calar jamais, pelo contrário, devemos por obrigação exortar e lutar pelo Evangelho genuíno de Cristo, afinal, quem ama luta pela verdade, pois "O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade". (1 Co 13:6).

A primeira passagem Bíblica a ser analisada é talvez a mais usada para afirmar que nunca devemos julgar ninguém que esteja praticando e difundindo um erro ou algo que vai contra as Escrituras. Esta passagem é Mateus 7:1: "Não julgueis, para que não sejais julgados." A grande questão aqui é se Jesus proíbe qualquer julgamento ou somente certo tipo de julgamento. O vs. 1 por si mesmo não nos dá uma resposta para esta pergunta. Por isso temos que aplicar uma regra fundamental de hermenêutica para poder interpretar a Bíblia. Analisar sempre o contexto da passagem citada para poder saber de que se trata a mesma, pois sabemos que texto fora de contexto é um pré-texto para formar até mesmo uma heresia. Aqueles que citam esta passagem isoladamente para dizer que não devemos julgar ninguém e sermos tolerantes estão gravemente equivocados e mal intencionados.

Para sabermos de que tipo de Julgamento Jesus proibiu nesta passagem vamos analisar o contexto: "Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão" Mt 7:2-5.

Analisando o contexto podemos ver claramente que Jesus proíbe especificamente o "julgamento hipócrita". Jesus diz aos judeus no vs. 1 que eles não devem julgar. No vs. 2, ele dá a razão pela qual eles não devem julgar: o padrão que eles usam para julgar os outros será o mesmo padrão que os outros usarão para julgá-los. Eles não devem ignorar seus próprios pecados, enquanto estão condenando os mesmos pecados nos outros. Fazer isto é julgar com um "padrão Duplo", ou seja, julgar hipocritamente.

Não é hipócrita condenar o irmão por uma pequena falta, ou mesmo tentar ajudá-lo a sobrepujá-la, quando você mesmo é culpado de uma falta maior? Esta é a grande questão que Jesus estava colocando diante do povo nesta passagem.

Note que o pecado dos dois pecadores é o mesmo em dois aspectos. Primeiro, é o mesmo em natureza: em ambos os casos um pedaço de madeira estava no olho da pessoa. Segundo, ambos estão atualmente pecando: o pedaço de madeira estava no olho deles naquele momento. A diferença entre as suas faltas é somente o tamanho: um pedaço é pequeno, e o outro é grande. É hipocrisia alguém cujo pecado é maior condenar alguém cujo pecado é menor, sendo em ambos os casos o mesmo tipo de pecado (vs. 5). Em outras palavras, uma mulher que está abortando um feto de oito meses não está na posição de repreender um homem que mata um caixa de banco, e o adultero não está na posição de criticar infidelidades no casamento de um outro casal!

Mateus 7:1, de acordo com o seu contexto, não proíbe todo julgamento e intolerância, mas somente o julgamento e intolerância hipócrita. De fato, ele requer de nós que, após nos arrependermos dos nossos próprios pecados, condenemos o pecado do irmão como pecado, e ajudemo-lo a se voltar dele. "tira primeiro a trave do teu olho", diz Jesus, "e então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão". Jesus ordena uma intolerância genuína, e não hipócrita, do pecado que o irmão comete.

Outra passagem bastante utilizada é João 8:7-11. O contexto é a história da mulher que foi pega no próprio ato de adultério e trazida a Jesus pelos escribas e fariseus. No vs. 7, Jesus diz aos escribas e fariseus: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra". No vs. 11 ele fala para a mulher: "Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais". Os defensores da tolerância usam estas palavras para argumentar que ninguém deveria condenar outras pessoas, pois não somos melhores do que elas.

Embora explicaremos o que significa julgar em maior detalhe mais tarde, estendamos por ora que, quando alguém julga, ela dá um veredicto: Culpado ou inocente. Após ser julgada, a pessoa é sentenciada: A pessoa culpada é condenada (sentenciada ao castigo) e a inocente é liberta. O ponto é que julgar e condenar são duas coisas distintas, relacionadas, mas não idênticas.

Tendo isso em mente, note que Jesus de fato julga esta mulher, mas não a condena. Ao dizer-lhe "vai e não peques mais", Jesus indica que ela tinha pecado. Em si mesma, a acusação dos fariseus estava correta, e Jesus julgou o pecado como sendo pecado. Isto mostra intolerância pela ação pecaminosa! Seguindo o exemplo de Jesus, devemos dizer aos pecadores que mostrem arrependimento genuíno não mais cometendo pecado.

Embora Jesus tenha julgado a mulher, ele não a condenou. Ela pode ir embora: ela não foi executada. O evangelho para o pecador penitente é: "Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." ­ Rm 8:1. Esta é a mensagem que Jesus dá à mulher; o próprio Jesus foi condenado por ela! Ele suportou o castigo que lhe era devido, para que ela pudesse ser livre!

A resposta de Jesus aos fariseus expõe o julgamento hipócrita deles no assunto (o propósito primário deles, certamente, não tinha nada a ver com a mulher; era pegar Jesus em Suas próprias Palavras. Todavia, Jesus sabia que os fariseus se orgulhavam da justiça própria deles, e respondeu à luz deste fato). Os fariseus, Jesus recorda-os, também eram culpados de pecado, e especificamente de adultério, quer físico ou no coração. Porque também não eram livres de pecado, também eram dignos de morte como ela. Assim, ao desejar saber que julgamento ela deveria ter recebido, eles revelaram sua própria hipocrisia e motivação errônea.

Esta passagem nos ensina como tratar com outros que pecam. O vs. 11 nos ensina que devemos desejar o arrependimento do pecador; o vs. 7 nos ensina que não devemos fazer isso hipocritamente, nem com motivos errôneos ou de uma maneira imprópria. Contudo, a passagem não quer dizer que nunca devemos considerar as pessoas responsáveis por seus pecados (isto é, julgar o pecado como sendo pecado).

Outra passagem é Marcos 9.38-40: "E João lhe respondeu, dizendo: Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue. Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim. Porque quem não é contra nós, é por nós".

Este texto tem sido muito usado - por aqueles que não têm conhecimento bíblico e querem justificar as heresias - para ensinar que não importa a doutrina que alguém prega, desde que fale de Jesus. Um relativismo espiritual, onde um espírito ecumênico e eclético é transportado ao texto bíblico. Dizem: "Não importa se ele está pregando certo ou errado, mas se está falando de Jesus, devemos considerá-lo como irmão". Este texto nos manda abrir os olhos para ver o apoio à causa de Cristo e não um texto que manda fechá-los ao desvio da verdade. Vejamos: a) Jesus conhecia o tal homem; b) o homem não estava praticando nenhuma heresia e nem ensinando outro evangelho; c) o homem estava agindo conforme os mandamentos e ensinamentos de Cristo.

Os discípulos estavam enciumados porque não conseguiram, pela falta de uma maior santificação (jejum e oração), expulsar o demônio de um garotinho - vs. 14-29 - e por isso não se conformavam com o êxito de um outro que "não fazia parte" do seu grupo. A resposta de Jesus foi para mostrar que não há hierarquia eclesiástica entre os Seus servos e tanto eles - os discípulos - como os leigos - o tal homem - podem e devem fazer o trabalho de Deus. Jesus não ensinou que qualquer um que esteja fazendo algo em "Seu Nome" deverá ser considerado um de nós. Se alguma pessoa ou igreja está praticando ou ensinando a doutrina Bíblica, é por nós; porém, se praticam e ensinam heresias e doutrinas antibíblicas, é contra nós e a resposta de Cristo é enfática: Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade - Mt 7.22-23.

Agora gostaria de colocar as passagens Bíblicas que nos ordenam julgar

Outras passagens na Escritura nos ordenam positivamente a julgar. Uma passagem que nos diz isso claramente é João 7:24. Ela se encontra no contexto da discussão de Jesus com os judeus que questionaram Sua doutrina, e tinham-no acusado de ter um diabo (Jo 7:20) e de quebrar o dia do Sábado curando um homem (Jo 5:1-16). A eles Jesus diz: "Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça". Ao dizer "não julgueis", Jesus não pretende proibir o julgamento como tal, mas proibir certo tipo de julgamento, como a parte positiva deste vs. deixa claro. Podemos julgar, mas quando o fizermos, devemos julgar justamente.

O julgamento exterior e superficial - isto é, julgar simplesmente sobre base do que parece ser o caso, sem conhecer todos os fatos - é um julgamento imprudente, injusto e sem discernimento, que é contrário ao nono mandamento da lei de Deus. Deus odeia tal julgamento. O Julgamento justo é feito usando a lei de Deus como o padrão pelo qual discernimos se o que parece ser o caso é realmente o caso.

Outra passagem é 1 Co 5, um capítulo importante com respeito ao dever positivo de julgar. Primeiro, no vs. 3 Paulo declara, sob a inspiração do Espírito, que ele tinha julgado um membro da igreja em Corinto que estava vivendo no pecado da fornicação. Seu julgamento foi "seja entregue [tal pessoa] a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus". Este é um julgamento ousado da sua parte. Segundo, nos vv. 9-13, Paulo lembra aos santos do seu dever de julgar as pessoas que estão dentro da igreja, quanto a se eles estão obedecendo ou não a lei de Deus. Aqueles que alegam ser cristãos e são membros da igreja, mas que são julgados como sendo impenitentemente desobedientes a qualquer mandamento da lei de Deus (vs. 9-10), devem ser excluídos da comunhão da Igreja. Paulo, sob a inspiração do Espírito, diz para a igreja não tolerar pecadores impenitentes.

Outros textos também indicam que é nossa responsabilidade julgar. Jesus pergunta às pessoas em Lucas 12:57: "E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?". Jesus repreende os escribas e fariseus em Mateus 23:23 e Lucas 11:23, dizendo: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém fazer essas coisas e não omitir aquelas". Era o dever deles, de acordo com a lei, julgar - mas eles tinham falhado neste dever. Paulo orou para que o amor do filipenses "aumentasse mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção". (Fl 1:9). Ele diz aos Corintos: "Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo". (1 Co 1:15).

Os cristãos são solicitados a examinar tudo e reter o bem (1 Ts 5:21). Eles também são obrigados a provar se os espíritos são de Deus: "Irmãos, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas tem saído pelo mundo afora" (1 Jo 4:1). Mesmo nas reuniões cristãs eles devem "julgar" o que ouvem: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem." (1 Co 14:29).

Os crentes de Corinto receberam ordens para julgar imediatamente a imoralidade existente entre os seus membros (1 Co 5:1-8). Mesmo o estrangeiro de passagem não deve ser hospedado se for verificado que não se trata de uma pessoa alicerçada na verdadeira fé (2Jo 10,11). E um anátema (maldição) deve ser proferido contra aqueles que apresentarem um tipo diferente de evangelho (Gl 1:9), tais como àqueles que trazem heresias para dentro de nossas igrejas (sugiro a estes que leiam Dt 13).

Estudando os contextos descobrimos que o que é proibido não é realmente o julgamento em si, mas sim um tipo errôneo de julgamento. Deus odeia o julgamento hipócrita! Mas Deus ama o julgamento justo da parte dos seus filhos. Que Ele ama isso é claro a partir do fato de ordenar que o pratiquemos, e de ter dado Sua lei como um padrão pelo qual podemos cumprir tal mandamento.

Portanto, é dever de todo cristão Julgar! Mas este "julgar" não significa fazer injúrias, calúnias ou fofocas sobre a pessoa que está no erro. Se vemos que alguém está se desviando do Evangelho, ou pregando e trazendo heresias para dentro de nossa igreja, o nosso objetivo principal deve ser alertar, repreender, exortar e conduzir o pecador ao arrependimento e a restauração. Caso a disciplina seja indispensável, ela deve ser feita com seriedade, amor e tristeza, sempre objetivando o arrependimento, e não a condenação eterna do pecador. E com muito temor também, afinal, não somos pessoas perfeitas e ninguém deve ser julgado ou condenado injustamente. É nosso dever também alertar ao Corpo de Cristo sobre determinadas heresias que porventura continuam a ser pregadas e os autores das mesmas não querem dar ouvidos. (leia Gl 6.1, 2Tm 4.2-3 e 1Co 6.1-5)

Pastor menciona distorções bíblicas na campanha de Silas Malafaia e Mike Murdock: “Temos uma teologia esfacelada, sem uma direção concreta”. Leia na íntegra


A polêmica em torno da nova campanha de arrecadação lançada pelo pastor Silas Malafaia ao lado de Mike Murdock durante a última edição do programa Vitória em Cristo, continua.
Numa abordagem a partir do ponto de vista institucional em relação ao fortalecimento da igreja, o pastor Paulo Siqueira, colunista do Gospel+, publicou em seu blog Pedras Clamam, uma extensa crítica não apenas à campanha de Malafaia e Murdock, mas também ao nível de conhecimento bíblico entre os evangélicos.
“O que se ouviu nesse programa é um ultraje a tudo o que temos no Brasil em forma de pensamento teológico. Silas Malafaia e Mike Murdock abusaram do direito de menosprezar a interpretação bíblica e toda a tradição cristã brasileira”, protestou o pastor.
Segundo Siqueira, que é conhecido por encabeçar o Movimento pela Ética Evangélica Brasileira(MEEB), “já foi o tempo em que pastores, missionários americanos chegavam em nosso país como donos do saber, e o povo ficava de boca aberta aplaudindo. Hoje temos em nosso país homens e mulheres com autoridade para interpretar os textos sagrados com maestria”.
Para o pastor, no Brasil atualmente não há uma uniformidade na pregação e ensino da Palavra de Deus: “Temos uma teologia esfacelada, sem uma direção concreta. Cada instituição defende e prega sua própria teologia”.
Siqueira questiona as motivações de Malafaia e Murdock ao promoverem o livro O Desígnio, de autoria do segundo, em detrimento à Bíblia: “Como pode um pregador, em uma pregação num programa de TV, onde a Bíblia fica em segundo plano em cima de uma mesa, e o pregador exalta seu livro ao ponto de dizer que o livro é: poderoso!?! A pregação deve ser bíblica, deve levar o ser humano a reconhecer sua situação e confessar a Deus e crer em Sua obra”.
A manipulação é uma das hipóteses levantadas pelo pastor Paulo Siqueira, que enxerga nas ações da dupla uma tentativa de impor conceitos: “A ênfase no título de doutor de Murdock é para impor sobre um público formado na sua maioria de ignorantes e mal-informados teologicamente, uma forma de dizer: ‘ele sabe mais do que eu’”.
O argumento apresentado pelo pastor Siqueira é reforçado, por ele, a partir de observações sobre o contexto em que a campanha foi lançada: “Silas é psicólogo, um profundo conhecedor da natureza humana, e tem usado esse conhecimento científico para aplicar a teologia da prosperidade de uma forma a não permitir que o que ouve se defenda de tão grande mal. Tudo tem um script, um método. É possível perceber nos pormenores, no dicurso de Murdock, técnicas de neurolinguística, com afirmações referidas em diversas repetições, e tudo isso firmado em textos isolados da Bíblia e orações. É uma forma de transe muito bem calculado e planejado para alcançar os seus alvos”.
Confira abaixo, a íntegra do artigo “O Brasil precisa de uma teologia”, do pastor Paulo Siqueira:
Depois de assistir ao programa Vitória em Cristo no último sábado pela manhã, apresentado pelo Pr. Silas Malafaia e com a participação especial do cidadão americano Mike Murdock (que é apresentado como “doutor”, porém não se diz em que), cheguei à conclusão de que é preciso rever com urgência o ensino teológico brasileiro, e o que muitos estão fazendo com esse conhecimento.
O que se ouviu nesse programa é um ultraje a tudo o que temos no Brasil em forma de pensamento teológico. Silas Malafaia e Mike Murdock abusaram do direito de menosprezar a interpretação bíblica e toda a tradição cristã brasileira.
O que foi apresentado em forma de pregação ultrapassa todos os limites permitidos para um país que se declara cristão. Lembro-me do tempo em que pastor pregava e ensinava a Bíblia, e não se utilizava desse espaço para falar de um livro com ideias pessoais, colocando-o acima do texto sagrado.
O cristianismo tem uma história, uma tradição que está acima de tudo isso. Já foi o tempo em que pastores, missionários americanos chegavam em nosso país como donos do saber, e o povo ficava de boca aberta aplaudindo. Hoje temos em nosso país homens e mulheres com autoridade para interpretar os textos sagrados com maestria.
O que Silas e Murdock fizeram foi um desrespeito a muitos que se dedicam, por uma vida toda, nos estudos da Palavra de Deus. Isso foi feito pelo referido pastor, pois o mesmo sabe das condições das lideranças evangélicas brasileiras, pois na sua maioria (principalmente nos meios pentecostal e neopentecostal), não possui uma formação teológica e, quando possui, não é de boa qualidade.
É fácil de ver anúncios em rádios, em programas evangélicos oferecendo cursos de teologia em forma de correspondência, onde o aluno paga e o material lhe é enviado com o diploma. Por outro lado, quando o ensino é de boa qualidade, muitos utilizam esse conhecimento para encher o seu ego e o de muitas instituições religiosas detentoras do saber.
Para muitos, o conhecimento teológico é utilizado como forma de defesa de uma teologia institucional. Sendo assim, não é repassado para o povo. O conhecimento que deveria dar condições ao povo de se defender de teologias como a que Silas e Murdock ensinaram não chega ao povo, pois muitos que o possuem usam isso para enriquecer seus currículos e para barganhar cargos e posições dentro de suas instituições religiosas.
Com isso, temos uma teologia esfacelada, sem uma direção concreta. Cada instituição defende e prega sua própria teologia.
“Uma teologia que não projeta a vida, para nada serve”.
É preciso rever nossa realidade urgentemente. Não podemos mais ter pregadores ultrapassando os limites da realidade.
“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” – Romanos 10:14-17
A Palavra está à nossa disposição, para ser tomada a sério, para se fazer valer, pronta para nos afligir o mais pesadamente possível, e para nos dar a liberdade no mais alto grau; ela está à nossa disposição para ser ouvida e falada.
A Palavra de Deus deve ser pregada com o intuito de levar o ser humano a se arrepender dos seus pecados e vir a se converter a Deus e confessar, com sua boca, a salvação em Cristo.
Como pode um pregador, em uma pregação num programa de tv, onde a Bíblia fica em segundo plano em cima de uma mesa, e o pregador exalta seu livro ao ponto de dizer que o livro é: poderoso!?!
A pregação deve ser bíblica, deve levar o ser humano a reconhecer sua situação e confessar a Deus e crer em Sua obra. O texto de Romanos nos diz:
“E como poderão crer Nele, se Dele não tiverem ouvido? Mas como poderão ouvir sem pregadores?” – Romanos 10.12-15.
O que vimos no sábado foram homens substituindo a Palavra de Deus por pensamentos humanos, substituindo as obras de Deus por obras de homens. A pregação cristocêntrica apresenta o Senhor ressurreto perante todos os que o invocam, pois Ele (o Senhor) não é um fundador de igrejas e de novas religiões, Ele é a justiça de Deus para todos no mundo.
Então, pois, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir do Evangelho, que é a revelação de Deus para os seres humanos.
Será que esses homens não temem a Deus? Por que deixam de lado a pregação cristocêntrica para transformar a pregação num discurso de auto-ajuda?
Infelizmente, a Igreja tem o “dom especial” de promover as pessoas, transformando-as prontamente em líderes todo o indivíduo que pareça perceber uma pouco mais que alguns outros. Sendo assim, é comum observar que a mensagem central da igreja se fundamenta no interesse mútuo de levar algum tipo de vantagens. É o evangelho intencional, com ideias já pré-formadas de que algo será alcançado.
Muitos já não conseguem mais servir a Deus pelo Seu amor, por Sua misericórdia ou por Sua Graça. Hoje, para muitos, tudo no contexto religioso há uma primeira, segunda e demais intenções.
A igreja é fonte de auto-promoção, de quem fala e também de quem ouve. Por isso, a palavra prosperidade é a grande evidência, pois no sistema capitalista ter e possuir ultrapassam os limites do ser.
Este é o centro da mensagem de Silas e seu amigo americano. A ênfase no título de doutor de Murdock é para impor sobre um público formado na sua maioria de ignorantes e mal-informados teologicamente, uma forma de dizer: “ele sabe mais do que eu”.
Com isso, a igreja vai perdendo a sua essência, pois a igreja invisível perde espaço para o contexto visível, palpável do capitalismo, que exige uma espiritualidade também palpável. Por que experimentar o melhor de Deus no céu, se eu posso ter tudo aqui e agora?
A teologia da prosperidade produz em quem prega e em quem ouve um desequilíbrio na alma, despertando os desejos mais profundos no ser humano. Não é de hoje que somos vulneráveis a querer todo o conhecimento e todas as riquezas da terra.
É preciso dizer que Silas e Murdock são homens audaciosos. A teologia que pregam foi previamente calculada, fundamentada em uma ciência que vai fundo na Gênesis do ser humano. Somos seres desejosos, e temos nossas fraquezas na relação espiritualidade e desejos deste mundo.
Silas é psicólogo, um profundo conhecedor da natureza humana, e tem usado esse conhecimento científico para aplicar a teologia da prosperidade de uma forma a não permitir que o que ouve se defenda de tão grande mal. Tudo tem um script, um método. É possível perceber nos pormenores, no dicurso de Murdock, técnicas de neurolinguística, com afirmações referidas em diversas repetições, e tudo isso firmado em textos isolados da Bíblia e orações.
É uma forma de transe muito bem calculado e planejado para alcançar  os seus alvos. As considerações pelas coisas da vida terrena, especialmente as vantagens, os prestígios e os prazeres que as riquezas podem proporcionar têm roubado a muitos prováveis discípulos as riquezas verdadeiras e permanentes.
Eclesiastes 6.7 nos diz: “Todo o trabalho do homem é para a sua boca, e contudo nunca se satisfaz o seu espírito”. E em Lucas 4.6 vemos: “E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero”.
É preciso ter consciência de que a teologia da prosperidade se fundamenta em forças que o ser humano não pode vencer por si só, a não ser que esteja respaldado pela direção e capacitação da Palavra de Deus, pois as riquezas e os prazeres da terra têm suas armadilhas para a alma e o espírito. É muito difícil manter um padrão de humanização diante das tentações do luxo e das riquezas, pois luxo e cristianismo são palavras antônimas, pois as riquezas sufocam o ser humano, produzindo vaidade e cobiça, levando a todos que enveredam por esses caminhos a perderem a visão do seu próximo e de toda a criação.
Teologia da Semente
Estou exagerando? Analise a história da humanidade e veja o que as grandes potências mundiais fizeram ao mundo e aos seres humanos em nome da conquista de riquezas e poder.
Infelizmente, pentecostais e neopentecostais utilizam, para justificar sua teologia da semente, o texto de 2 Coríntios capítulo 9, principalmente o versículo 10. Temos a impressão de que querem justificar que o Apóstolo Paulo seja o criador da teologia da prosperidade.
Isso não é verdade. J. Becker, em sua obra “Apóstolo Paulo – Vida, Obra e Teologia” destaca que a teologia central do Apóstolo Paulo é a teologia da cruz. Utilizar-se de um texto paulino para justificar a busca por riquezas é uma grande vergonha, pois a doutrina dos verdadeiros apóstolos de Cristo se fundamenta na cruz de Cristo, que veio salvar o perdido e veio trazer vida eterna.
Há muita confusão na interpretação desses textos. Muitos são os exegetas que se dedicam ao estudo do texto bíblico no sentido de trazer orientação para o caminho cristão. É preciso destacar que no capítulo 9 as orientações de Paulo têm como tema central: a coleta de benefícios  para os santos e pobres de Jerusalém.
Paulo trata das questões de coletas e doações em diversos textos em suas cartas. Porém, sempre dando sentido para o assunto. Isso está descrito de forma bem clara em 1 Coríntios 16.1-2. O capítulo 9 de 2 Coríntios é considerado por muitos estudiosos como continuidade do capítulo 8, pois enquanto no capítulo 8 o apóstolo descreve a situação enfrentada pelos irmãos em Jerusalém, também fundamenta a ação da coleta pelo exemplo dado pelos macedônios.
No capítulo 9, Paulo descreve toda a espiritualidade do ato de envia ajuda aos irmãos de Jerusalém. É preciso deixar claro que tanto no capítulo 8 como no capítulo 9 o fundamento é enviar ofertas para os pobres de Jerusalém.
Para entendermos melhor o contexto do capítulo 9, é preciso entendermos o 8, pois Deus é galardoa dor daqueles que contribuem com liberalidade. Porém é preciso entender que o ensino aqui descrito é que o dar é uma obra espiritual, que leva os beneficiados a louvar a Deus. Ou seja, não devemos esquecer os que sofrem, e por isso nossas esmolas faz-nos exercer a piedade prática no sentido de aliviar as necessidades físicas e espirituais dos pobres, dos órfãos, das viúvas e dos demais que sofrem.
A pergunta é: por que Paulo dá tamanha importância a essa oferta? A resposta é: havia grande aflição em Jerusalém, pelas perseguições contra a igreja e os crentes.
Atente a isso agora: o texto central utilizado pelos pregadores da prosperidade é 2 Coríntios 9.6, com a intenção de levar a muitos a substituir as sementes (as ações de misericórdia e amor) por dinheiro. Porém, o texto de 2 Coríntios 9.6 em momento algum se refere ao semear dinheiro, com o intuito de adquirir bens materiais. O texto se fundamenta em Gálatas 6.7-8: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”
Paulo descreve que tudo o que fazemos (plantamos), seja bom ou ruim, é visto por Deus, e isso resultará em consequências. Em momento algum Paulo descreve a questão de dinheiro, de enriquecimento. Essa referência ao texto de Gálatas é o reforço de Paulo em justificar os atos de bondade dos seres humanos para com os que sofrem. Na teologia da cruz de Paulo, o Cristo é representado em prol dos que sofrem. O ato de ofertar na coleta dos santos e pobres é um ato de bondade, que espelha o ato de Cristo para com o mundo.
Ou seja, aquele que semeia “pouca” bondade, pouca bondade também colherá.
Quando o texto diz que é Deus quem dá a semente, essa semente é o exemplo de Cristo, que se deu pelo mundo para exemplo de todos nós. Pois, se vamos referir às cartas paulinas, principalmente as cartas aos Coríntios, é preciso dizer que o texto central desses dois livros se fundamenta em 1 Coríntios 13, onde o apóstolo coloca claramente que a obra de Cristo tem sua essência no amor ao próximo.
Com isso, o ato de ofertar é um ato de bondade, de amor, e não um ato de ganância da riqueza desenfreada que expõe o ser humano como um escravo do mundo material.
O ato de reconhecer a necessidade do meu próximo faz de mim um praticante da vontade de Deus.
Nada, nada a ver com a teologia apresentada por Malafaia, Murdock, Cerullo, Estevan Hernandes, R. R. Soares, Renê Terra Nova, Valdemiro Santiago, entre outros.
Para terminar, vejamos 2 Coríntios 9.9: “conforme está escrito: espalhou, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre”.
Meu Deus, quanto engano na boc a desses homens! E isso seria facilmente resolvido se o povo tivesse acesso ao conhecimento desprovido do mercantilismo comercial de muitas igrejas.
Onde estão os teólogos deste país? O que estão fazendo com o conhecimento adquirido na Academia? Onde estão os profetas, que anunciam as verdades de Deus diante do mundo, sem temer as ameaças?
Para que homens como Malafaia, Murdock e outros sejam combatidos com a verdade do Evangelho é preciso que muitos voltem a pregar o Evangelho cristocêntrico, que revela a cruz de Cristo.
Que sejamos semeadores do amor, da justiça, da paz. E as demais coisas nos serão acrescentadas.
A DEUS, TODA A GLÓRIA

Ceia do Senhor: banquete ou aperitivo?

Ceia do Senhor: banquete ou aperitivo?

É curioso o fato de o Senhor Jesus não ter deixado nenhum estatuto de natureza doutrinária, administrativa ou litúrgica a seus discípulos, de ter falado muito pouco da Igreja nos Evangelhos mas, no entanto, ter deixado duas ordenanças a serem observadas pela Igreja: o batismo e a Ceia – o que nos mostra a importância destes atos proféticos para Deus: o batismo é a iniciação de nossa fé, e a Ceia é a confirmação da mesma ao longo de nossa caminhada cristã.
É unânime o entendimento da importância e do significado da Ceia na Igreja como um memorial ao sacrifício vicário de Cristo a nosso favor. Entretanto, recentemente, um diálogo tem sido encorajado entre os irmãos no tocante a três aspectos da Ceia do Senhor: o formato, o espírito e o propósito em que ela é celebrada.
Assim como outros irmãos, particularmente entendo que milênios de tradição eclesiástica alteraram o entendimento destes aspectos e o modus operandi da Igreja quanto à Ceia. Esta série de artigos visa dar a minha contribuição neste diálogo. O título e alguns termos que usarei ao longo destes artigos podem soar um pouco provocadores, mas esclareço que minha intenção não é ridicularizar, nem mesmo mudar aquilo que milhões de irmãos praticam por todo o mundo. O propósito é fazer-nos refletir sobre algumas tradições que herdamos de nossos pais na fé e esclarecer certas práticas e entendimentos diferentes que estão emergindo em nossa geração no tocante a esta importante ordenança.

A prática dos primeiros cristãos

Era comum entre os primeiros cristãos observar a Ceia em um formato de celebração, ou seja, como uma refeição literal. Além de [1] observar um memorial ao sacrifício vicário de Cristo a nosso favor, a Ceia também tinha o propósito de [2] criar um ambiente de comunhão e fraternidade entre os irmãos (2 Ped. 2:13, Jd 12) e [3] prestar solidariedade e ajuda aos irmãos mais pobres da Igreja (1 Cor. 11:17-34).
A Igreja primitiva era uma rede de cristãos que se reuniam de casa em casa para juntos adorarem o Senhor Jesus. A mesa da comunhão era o epicentro desta celebração. O “partir o pão” (Atos 2:46) era um elemento tão importante desta celebração quanto os salmos, orações e a meditação das Escrituras que hoje tanto prezamos. A Ceia era uma celebração que fazia parte do cotidiano dos discípulos; não era um ritual litúrgico realizado no primeiro domingo de cada mês e sim uma celebração em família.
Há algo na comida que estimula o espírito fraternal e, sabendo disso, não poucas vezes Jesus ministrou enquanto compartilhava uma refeição com seus discípulos. Por isso, a Ceia, apesar de não ser uma refeição como qualquer outra (pois possui um significado espiritual), nos seus primórdios era tão literal a ponto de, até mesmo, ser confundida com um banquete qualquer (esse foi juntamente o problema que estava ocorrendo em Corinto, como veremos mais adiante).
1 Cor 11:23-28 é uma das passagens mais lidas em nossas igrejas na celebração da Ceia do Senhor. Poucos atentam, porém, para o fato de, em 1 Cor 11, Paulo usar a palavra grega δεῖπνον (deipnon) para se referir à Ceia. Δεῖπνον se refere à PRINCIPAL refeição do dia entre os gregos e romanos de seu tempo (normalmente no final da tarde ou no começo da noite).1 Ou seja, ao ensinar sobre a Ceia, Paulo tinha em mente um banquete que não somente era literal, mas era também SUBSTANCIAL.
A propósito, as admoestações de Paulo contra a comilança e embriaguez dos coríntios não fariam o menor sentido se os primeiros cristãos celebrassem a “ceia tradicional” com elementos simbólicos atualmente realizada em nossas Igrejas.

O problema de Corinto

O episódio em Corinto merece nossa atenção devido a má interpretação da proposta de Paulo para a solução dos problemas que estavam ocorrendo na celebração da Ceia naquela igreja.
Não poucos irmãos entre nós (até mesmo na Igreja nos lares) entendem as admoestações de Paulo aos corintios (para que os irmãos mais abastados “comessem em casa”) como um mandamento para que a Ceia fosse realizada como um evento distinto e separado do farto banquete que mais tarde seria conhecido entre os discípulos como “Festa Ágape” (Jd. 12). Mas esta é uma má interpretação das instruções do apóstolo.
Ao lermos 1 Cor 11:17-34 com atenção, entenderemos que os mais abastados estavam trazendo a comida e comendo a sua refeição individualmente, sem se preocuparem com os irmãos mais pobres da Igreja, envergonhando assim “os que nada têm” que normalmente chegavam de mãos vazias ao evento e acabavam ficavando sem comer (v. 22). As pessoas somente “enchiam a pança” sem se preocupar com os demais membros do Corpo, esquecendo-se de consagrar o pão e o vinho em conjunto com TODOS os membros do Corpo Local. A Ceia deixava então de ser a celebração do Corpo de Cristo para tornar-se uma mera comilança egoísta.
Paulo não mandou ninguém comer em casa porque pensava que a Ceia era algo “demasiadamente sagrado” para ser celebrada durante uma refeição normal. A repreensão de Paulo não se deu por eles estarem “profanando” a Ceia pela “falta de reverência” ao literalmente festejá-la com fartura de alimentos. Paulo repreendeu os corintios por estarem comendo fora do espírito da comunhão, pelas dissensões que havia na Igreja (v. 18) e porque cada um estava fazendo “a sua própria ceia” de maneira egoísta (v.21). A solução proposta por Paulo não foi uma “ceia simbólica”, e sim que “se você não consegue se controlar, coma em casa, aplaque essa sua ‘fome de leão’ e abençoe o mais pobre” para que todos possam participar JUNTOS da Ceia. O apóstolo é bem claro quanto a isso quando termina o capítulo dizendo que “quando vos ajuntais PARA COMER, esperai uns pelos outros” (v. 33).
É obvio, portanto, que Paulo não aboliu a prática de compartilhar uma refeição literal durante a Ceia do Senhor em Corinto, apenas corrigiu alguns excessos que estavam ocorrendo naquela Igreja.

Conclusão

A maioria de nós vem de uma tradição católica onde o batismo por aspersão é praticado. Algumas denominações protestantes nunca aboliram esta prática herdada do catolicismo, apesar do amplo entendimento de que o batismo por imersão reflete com mais fidelidade o batismo bíblico, tanto na questão morfológica da palavra (a palavra “batismo” vem do grego βάπτω – bapto - quer dizer literalmente “imergir”)2 quanto na prática da Igreja primitiva (que batizava por imersão). Assim como a ordenança do batismo, a Ceia do Senhor também sofreu uma mutação em seu formato original.
A Ceia foi originalmente instituída pelo Senhor Jesus em um contexto de refeição literal (Lucas 22: 15-20). O Senhor consagrou o pão e, somente depois de cear (v.20), consagrou o vinho e o tomou com seus discípulos. Ele abriu a Ceia com o pão, comeu o banquete da Páscoa3 e fechou o jantar ao levantar o cálice de vinho. Anos de tradição religiosa “enxugaram” a ordenança ao minimizar ao máximo a literalidade dos elementos que a compõem: o pão foi substituído por alguns farelos e a taça de vinho por suco de uva servido em copinhos de flúor.
Obviamente esta é uma questão secundária com relação à salvação e que, pela graça de Deus, não é o formato da ordenança e sim a fé de cada um que cumpre o seu propósito principal. Entretanto, tal princípio não invalida o valor desta discussão: é fato que a ceia simbólica que atualmente celebramos em nossas igrejas foi uma adaptação pós-bíblica da tradição apostólica. Uma análise bíblica e histórica imparcial na questão da Ceia nos levará a reconhecer que a ceia literal está para o batismo por imersão assim como a ceia tradicional está para o batismo por aspersão no tocante ao seu formato.
A Ceia do Senhor não se distingue de outras refeições no seu formato, somente em seu significado. O que distingue a Ceia como um ato profético não é um ritual solene em que experimentamos alguns “aperitivos sagrados”, mas o propósito pelo qual nos reunimos: não somente para “encher a pança” (como nos adverte Paulo), mas para, em alegria, relembrar a oferta vicária feita em nosso favor à medida que confraternizamos uns com os outros.
A cirúrgica separação entre a Ceia do Senhor e o banquete promovida pela tradição eclesiástica transforma a ordenança em um ritual totalmente estranho às Escrituras e à prática dos primeiros apóstolos, desprovido totalmente de seu contexto de celebração e fraternidade. Diante de tantas descrições bíblicas da Ceia como um banquete, enxergar Pedro, João, Paulo, Silas, Timóteo e os demais discípulos comungando em torno de uma mesa cheia de “aperitivos simbólicos” é mais do que uma idéia equivocada. É algo totalmente surreal.

Ceia do Senhor: festa ou funeral?

Como dito no artigo anterior, a Ceia foi estabelecida pelo Senhor Jesus e celebrada por seus discípulos em um contexto de refeição literal. A idéia de se observar a Ceia do Senhor tomando suco de uva em um dedal de costura e comer pedacinhos insípidos de bolacha é algo totalmente estranho às Escrituras e à prática dos primeiros discípulos.

Piquenique no cemitério

Por que o formato da Ceia é tão importante? Porque o formato determina o espírito em que ela é celebrada. Quase dois milênios de tradição eclesiástica transformaram a Ceia em um solene ritual, em contraste com a prática dos primeiros discípulos que, ao celebrar a Ceia, estavam simplesmente compartilhando um banquete.
O pão e o vinho deveriam ser consumidos em um ambiente de alegria e descontração, não de tristeza e formalismo. Mas nos moldes atuais, “celebrar” a Ceia é algo tão contraditório quanto fazer um piquenique no cemitério.
O sentimento de um evangélico ao participar da Ceia é o mesmo de um católico na sexta-feira da Paixão: contemplam as chagas de Cristo com um espírito de penitência e comiseração. A tradição eclesiástica nos ensina que, ao tomar a Ceia, devemos reviver os horrores da cruz e, com tristeza, VELAR o Corpo de Cristo simbolizado pelo pão e pelo vinho. É como se estivéssemos assistindo ao filme de Mel Gibson – “A Paixão de Cristo” – todas as vezes em que provamos a ceia.
Mas será que era isso o que o Senhor tinha em mente quando instituiu a Ceia? Seria a intenção do Senhor que sua Igreja realizasse um velório por mês em memória à sua Pessoa?

O espírito da Igreja Primitiva

Particularmente, entendo que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, mas posso dizer que a Ceia de Natal é o evento que mais se aproxima da Ceia do Senhor no tocante ao formato e ao espírito em que ela era celebrada pelos primeiros discípulos: a Ceia de Natal, para grande parte dos cristãos, é uma ocasião em que as pessoas se reúnem em torno de uma mesa (repleta de comida) para celebrar o Senhor Jesus Cristo em um espírito de alegria, simplicidade, informalidade e desprovido de religiosidade. Mais do que um banquete, trata-se de uma celebração em família com um propósito espiritual. Este foi o ambiente em que a Ceia era celebrada em seus primórdios.
Devemos lembrar que Jesus estabeleceu a Ceia durante a Pessach , ou Páscoa (Lucas 22:7). A Páscoa judaica é um festival em que os judeus recordam e comemoram a libertação dos hebreus da escravidão do Egito e a consequente formação da nação de Israel, conforme narrado no livro de Êxodo. Desnecessário dizer que, para um judeu, a Pessach é uma festa, não é um funeral. Para um judeu, o sangue do cordeiro é sinônimo de vida e não de morte. Foi pelo sangue derramado e espalhado nos umbrais de suas portas que o anjo da morte se desviou de suas casas enquanto trazia juízo à nação do Egito.
A Páscoa judaica ainda é celebrada entre os judeus como uma festa que simboliza um pacto. De igual maneira, a Ceia do Senhor deve ser uma festa que simboliza um pacto: pelo Sangue de Cristo fomos libertos da escravidão do pecado e não seremos julgados com o mundo. Por seu sangue somos feitos novas criaturas e novos cidadãos desta Pátria Espiritual, que é o Reino de Deus.
Por que então observamos a Ceia como se fosse um funeral, como se ao provar do cálice e comer o pão estivéssemos uma vez mais matando o Filho de Deus?

A Eucaristia Protestante

Influenciados pela prática pagã de se oferecer sacrifícios em seus dias, os cristãos ante-nicenos já no início do segundo século haviam desenvolvido a ideia de que todas as vezes em que a Eucaristia era observada, o Corpo de Cristo estava sendo novamente oferecido em oblação. Eles entendiam que, após a congragração por meio da oração, o pão e o vinho passavam por um processo místico de “mudança de matéria” (transubstanciação). A partir deste momento, eles já não eram simplesmente o pão e o vinho, e sim a “Eucaristia” (do grego Εuχαριστία, que quer dizer “ação de graças”). A Eucaristia era a presença literal e substancial do Corpo do Senhor Jesus no pão e no vinho.1 Esta crença fez com que o pão e o vinho adquirissem um aspecto sagrado em si mesmos, o que deu a luz a todo tipo de misticismo e superstição em torno da Ceia do Senhor. Este é o transfundo de toda a solenidade litúrgica que envolve a Eucaristia católica.
A Reforma Protestante aboliu a supersticiosa doutrina da transubstanciação, mas a penumbra e o espírito fúnebre que permeiam o subconsciente protestante, na ocasião da Ceia, remetem à idéia católica de reviver o sacrifício de Cristo cada vez que tomamos o vinho e comemos o pão.
Os protestantes brasileiros desdenham dos crucifixos católicos que trazem um Cristo morto no madeiro, alegando que a “cruz protestante” está vazia – simbolizando a ressurreição do Messias. Os evangélicos criticam os católicos por contemplarem as chagas de Cristo de forma exageradamente piedosa, penitente e fúnebre. Os evangélicos dizem que não adoram a um Cristo morto e ensangüentado na cruz, mas a um Cristo vitorioso que venceu a morte e que nos deu vida. Curiosamente, no momento da Ceia, toda a retórica protestante desvanece, dando lugar à mesma prática católica medieval de se contemplar as chagas de Cristo com lástima e penitência, sem o devido discernimento daquilo que estas chagas fizeram por nós: elas foram o castigo que nos trouxe a paz – Is 53:5.

Conclusão

A ceia simbólica atualmente realizada em nossas igrejas elimina totalmente o aspecto fraternal da ordenança, transformando aquilo que deveria ser uma celebração familiar em um ritual fúnebre e exageradamente solene. O pudor a uma festa com abundância de alimentos, onde as pessoas literalmente confraternizam à medida que celebram o Corpo de Cristo, parte do conceito católico de que tal ambiente de festa profanaria a “Eucaristia” pela falta de reverência.
Não há dúvidas de que a memória do sacrifício de Cristo a nosso favor deve causar em nós um quebrantamento. Mas devemos discernir entre o quebrantamento de um inconverso que é confrontado com as chagas de Cristo, e o quebrantamento de um discípulo que experimenta o poder do Pacto de sangue que Cristo firmou na cruz conosco. Se em nossa conversão o sacrifício de Cristo nos causa um quebrantamento acompanhado de culpa e tristeza (“Ele sofreu e morreu por mim”), no decorrer de nossa caminhada cristã a memória das chagas do Senhor deve causar em nós um quebrantamento acompanhado de júbilo (como a de um escravo que recebe sua carta de alforria, ou a de um devedor cuja dívida é perdoada), pois aquele que toma de seu sangue e come de seu corpo tem a Vida em si (Jo 6:48-58).
A Ceia do Senhor é um ato profético da Vida de Cristo sendo recebida e compartilhada por aqueles que participam deste banquete espiritual. É um ato profético que aponta também para as Bodas do Cordeiro (Apocalipse 19:7-10). A Ceia do Senhor é a nossa Pessach. Jesus é o nosso Cordeiro Pascal. Seu sangue nos cobriu e nos livrou da morte. Sendo assim, devemos celebrar seu sacrifício em um ambiente de festa, com alegria e gratidão, não em luto e comiseração.

Trapalhadas ante-nicenas: uma retrospectiva histórica da Ceia do Senhor


Tenho grande admiração pelos pais ante-nicenos. A fibra moral, a sinceridade e dedicação ao Senhor que encontramos nos registros históricos acerca destes homens são notórias. Alguns serviram ao Senhor até o ponto de martírio, e sem dúvida devemos muito a eles na preservação e na transmissão de vários aspectos de nossa fé.
Temos que reconhecer, no entanto, que igualmente devemos a eles algumas distorções de conceitos e práticas bíblicas que se propagaram na era ante-nicena e que, posteriormente, acabaram sendo transformadas em doutrina pelo catolicismo romano. As crendices ante-nicenas a respeito da Ceia do Senhor são, sem dúvida, um grande exemplo disso.
Como vimos anteriormente, já na segunda metade do século II encontramos registros de que os cristãos começaram a crer que o pão e o vinho, após serem consagrados por meio de oração, se transformavam literalmente no corpo e no sangue do Senhor Jesus1 por meio de um processo místico de transmutação (ou transubstanciação). A partir deste momento, o pão e o vinho não eram mais elementos comuns mas, de acordo com os pais ante-nicenos, eram a Eucaristia (que quer dizer “ação de graças”). Esse sem dúvida foi o fator que abriu caminho para que a Ceia deixasse de ser um banquete familiar para se tornar um ritual solene e litúrgico.  À medida que o misticismo em torno do pão e do vinho aumentava, a Ceia do Senhor diminuía de tamanho no intuito de evitar sua profanação.
Os elementos da Eucaristia adquiriam atributos sagrados em si mesmos e todo tipo de superstição e fanatismo se originava em torno da Ceia do Senhor. Tertuliano, por exemplo, dizia que se entristecia a ponto de “sentir dores” sempre que o vinho ou um pedaço de pão acidentalmente caiam no chão.2 Os elementos da Eucaristia se tornaram tão sagrados que seu depositário era tratado como se fosse literalmente a urna onde jazia o Corpo de Cristo.3Cipriano, por exemplo, nos conta de uma mulher que tentava tocar a caixa que continha “o sacramento da Eucaristia” com “mãos impuras”, quando foi impedida por labaredas de fogo que supostamente subiram da caixa.4 Não demorou muito para que a mesa que continha os elementos da Eucaristia fosse vista também como um objeto sagrado em si mesmo: no final do século II, “a mesa santa” ou “mesa bendita” já era reverenciada como uma espécie de altar.
Para o cristão ante-niceno, a Eucaristia era literalmente o meio pelo qual Cristo tinha comunhão com sua Igreja. Abster-se da Eucaristia era abster-se da comunhão e do Corpo de Cristo. Cipriano chamava o cálice de vinho de “o cálice da salvação”5 e expressa sua preocupação com aqueles que, por algum motivo, se abstinham de tomar a Eucaristia e se “separavam do Corpo do Senhor” a ponto de distanciar-se da salvação.6
A Eucaristia passou a ser vista também como um meio pelo qual compartilhamos da imortalidade de Cristo e uma espécie de vitamina espiritual.7 Cipriano nos relata que alguns cristãos bebiam o cálice do sangue do Senhor diariamente para serem fortalecidos e serem capazes de derramarem seu próprio sangue por Cristo.8
Influenciados pela cultura pagã de seu tempo, os cristãos ante-nicenos começaram a ver a Eucaristia como um sacrifício a ser continuamente oferecido pela Igreja. O Didaque, um dos documentos apóscrifos mais antigos da História da Igreja (80 d.C. – 140 d.C.), já descreve a Ceia como uma espécie de “sacrifício espiritual”, o que nos mostra que esta distorção já havia entrado na Igreja no início do século II.9 Por volta do ano 180 d.C., Irineu já ensinava que a Eucaristia era “a oblação do novo Pacto”, incenso oferecido a Deus pela Igreja em todo o mundo.10 Cipriano exorta os cristãos a rejeitarem os sacrifícios pagãos de seu tempo e tomarem o Corpo do Senhor em sacrifício.11
Um sacrifício só pode ser oferecido por um sacerdote. Surge então a idéia de que os elementos da Eucaristia deveriam ser consagrados pelo “presidente da congregação” primeiro, e só depois distribuídos pelos diáconos aos demais membros do Corpo de Cristo.12

Conclusão

Em meio ao fanatismo medieval em torno da “Eucaristia”, a Reforma Protestante nos recordou que Cristo foi sacrificado uma só vez pelos pecados da humanidade e que, portanto, a Ceia do Senhor não é uma “oblação” (Hebreus 9:26). Muitos protestantes, porém, apesar de não confessarem a transubstanciação doutrinariamente, na prática ainda perpetuam certas práticas que derivam do conceito.
Na maioria das igrejas hoje, a “Santa Ceia” é vista como um sacramento que obrigatoriamente necessita ser ministrado por um “sacerdote” – um clérigo profissional – para ser validada. Séculos de tradição eclesiológica acumulada transformaram a Ceia em um ritual tão sagrado que, na mente das pessoas, tomá-la pode ser algo perigoso.13 Celebrá-la como os primeiros discípulos nos dias atuais (em um banquete literal), equivale a profanar a “bendita mesa” e cometer um “sacrilégio”.
A Ceia do Senhor foi concebida como uma simples refeição entre discípulos. Era era um banquete que simbolizava uma aliança. É uma profecia encenada, um ato profético composto por elementos comuns que apontam para uma realidade espiritual, mas que não são a realidade espiritual em si mesmos. O aspecto místico da Ceia não está no pão e no vinho literalmente, mas na profecia que eles proclamam – tanto quanto a água do batismo que não limpa pecados, mas de maneira tangível aponta para uma realidade espiritual.
A Ceia não é um banquete como qualquer outro, por causa daquilo que representa, mas para nos aprofundarmos na revelação embutida nesta ordenança, devemos nos desfazer de todo o misticismo e superstição que herdamos de “Mãe Roma” e começar a vê-la novamente como um evento comunal, assim como faziam os primeiros discípulos.
Assim como a Bíblia no século XVI, o pão e o vinho necessitam sair das mãos do clero e ser “desembrulhados” de toda a roupagem mística e supersticiosa que a tradição eclesiástica lhes agregou, voltando a ser manuseados com intimidade pelas pessoas, sem medo, sem superstições, em um espírito de alegria e gratidão.