sábado, 15 de março de 2014

Adão e Eva — casamento, uma ideia divina

ADÃO E EVA — CASAMENTO, UMA IDEIA DIVINA
 INTRODUÇÃO
O casamento não é obra da mente criativa do ser humano e sim uma instituição divina, um ato de compaixão de Deus para com o homem, pelo qual demonstra o seu propósito para a humanidade.
O pecado, no entanto, faz o homem não compreender dessa maneira. Então, quanto mais o tempo passa, mais o casamento sofre duros ataques, e assim os estragos são cada vez maiores. Basta considerarmos o crescente número de divórcios em nosso país – crescimento que ocorre, infelizmente, também entre os cristãos – para verificarmos como isso tem se tornado cada vez mais abrangente e devastador.
Como a família é extremante importante aos olhos de Deus e o casamento é uma instituição santa, iniciamos o estudo de alguns casais da Bíblia. Veremos princípios que foram evidenciados na vida de casais que temiam ao Senhor e que também devem fazer parte de nossa vida. Também consideraremos práticas que não devem ser seguidas. Comecemos com o primeiro casal: Adão e Eva.
I. HOMEM E MULHER
O relato da criação mostra a dedicação especial de Deus na formação do homem. De modo detalhado a Bíblia narra como Deus o formou, desde a matéria prima (o pó da terra) ao fôlego da vida (Gn 2.4-7) e o fim para qual foi criado – para cultivar e guardar o jardim do Éden (Gn 2.15).
Apreciando a sua criação, Deus viu que dentre todas as suas criaturas não havia uma que servisse como “auxiliadora idônea” para o homem. Por isso, Deus fez com que Adão dormisse e dele formou a mulher, sua auxiliadora idônea. Duas pessoas distintas, porém, com o único propósito – glorificar a Deus com suas vidas.
Em Gênesis 1.27 está definido o padrão da criação quanto aos relacionamentos e o desenvolvimento da humanidade: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Observe que o ser humano foi criado à imagem e semelhança do seu Criador. A dignidade especial dos seres humanos está nessa característica essencial. Além disso, Deus estabeleceu uma distinção de gênero: masculino e feminino. Embora haja igualdade entre os seres humanos (imagem e semelhança de Deus), há também diferença (homem e mulher).
Isso significa que Deus estabeleceu uma regra clara para a sexualidade  humana: a heterossexualidade. Essa diferenciação sexual envolve propósitos específicos que apontam para o casamento, a unidade sexual e a procriação.
O casamento foi divinamente instituído como uma monogamia heterossexual que deve ser publicamente reconhecida (deixar os pais), permanentemente selada (ele se unirá à sua esposa) e fisicamente consumada (uma só carne).
Apesar da igualdade essencial do homem e da mulher Deus os criou com deveres e papéis diferentes. O homem para assumir as responsabilidades de cuidar de toda obra da criação, zelando pelo seu bom desenvolvimento e manutenção; e como marido, tendo de cumprir com a sua responsabilidade de constituir família, amando sua esposa, educando seus filhos, conduzindo-os sempre a uma comunhão verdadeira com o Senhor. A mulher por sua vez, assume uma responsabilidade diferente, mas, não menos importante ou inferior à do homem: ser a auxiliadora idônea. Naquilo que um é deficiente, ou outro é eficiente gerando, assim, um caráter complementar.
João Calvino diz que este caráter de complementar se dá “porque Deus assim o ordenou no princípio, ou seja, que o homem sem esposa é apenas a metade de homem, por assim dizer, e se sente carente do apoio que pessoalmente necessita; e a esposa é, por assim dizer, o complemento do homem” (1Coríntios, Edições Parakletos, p. 199).
II. DEFININDO OS PAPÉIS
As Escrituras apontam papéis específicos para cada um no casamento. O marido deve assumir a liderança em casa. Essa liderança não deve ser ditatorial, condescendente ou paternalista, mas deve estar em conformidade com o exemplo de Cristo, Senhor da igreja (Ef 5.25-27). E Cristo amou a igreja (seu povo), com compaixão, misericórdia, perdão, respeito e altruísmo. É desta forma que os maridos devem amar suas esposas.
As esposas devem se submeter à autoridade de seus maridos (Ef 5.22-23). A submissão, neste caso, não deve ser entendida como um jugo, tampouco a autoridade deve ser entendida como ditadura e opressão. A submissão deve ser uma entrega incondicional que visa o preenchimento mútuo. Ela envolve sacrifício, visando que o relacionamento entre ambos seja saudável. Ao marido foi dada a  responsabilidade de constituir e guiar a família a Deus, ainda que tenha que sacrificar a sua própria vida por isso. O papel da mulher é ajudar, apoiar e sustentar o marido no cumprimento dessa missão.
Percebe-se, portanto, que o papel de submissão da mulher vai além do que simplesmente aceitar renegadamente os valores comportamentais e morais do marido.
Embora o referencial para ambos seja imenso, ou seja, o marido deve amar a esposa como Cristo amou a igreja e, as esposas devem ser submissas aos maridos como a igreja o é a Cristo, este é o objetivo a ser alcançado. Quando estes papéis são desprezados os nossos relacionamentos não glorificam a Deus, não nos completamos e deixamos de alcançar a satisfação.
Há algo importante a ser dito ainda com relação a esta analogia interrelacional entre marido e mulher, Cristo e a igreja. Ao dizer que Cristo é o cabeça da igreja, Paulo tem em mente três aspectos importantes: “Primeiro, Cristo tem autoridade sobre a igreja e a governa; segundo, a igreja é o complemento de Cristo neste mundo; e terceiro, Cristo preserva e cuida de seu povo.” (A Bíblia e sua família, Augustus Nicodemus e Minka Schalkwijk, Cultura Cristã, p. 53.).
Desse entendimento, poderíamos dizer que como ordem de Deus, o homem exerce autoridade sobre sua esposa assim como Cristo exerce autoridade sobre a igreja; que a esposa é o complemento do seu marido assim como a igreja é o complemento de Cristo neste mundo; e que o marido deve preservar e cuidar de sua esposa assim como Cristo preserva e cuida de seu povo.
Diante disso: “Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor. Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura” (Cl 3.18-19). “Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento;
e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações” (1Pe 3.7). A partir destes versos, vemos que o amor e o respeito caracterizam os papéis de ambos. Se estes estiverem presentes, então a autoridade, liderança, amor e submissão não serão problemas para os cônjuges.
III. OS DOIS SENDO UM
Quando o homem vê a dádiva que Deus havia lhe concedido – a mulher – declara: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23). O termo “uma só carne” aponta para uma união indissolúvel, solidária e complementar. Um estado de inteira codependência.
Deus mesmo disse que não era bom que o homem estivesse só. Disso entendemos que não estava em jogo simplesmente a questão da solidão do homem, mas também a impossibilidade de o homem cumprir suas responsabilidades pactuais. A Confissão de Fé de Westminster (XXIV.2) afirma: “O matrimonio foi ordenado para o mútuo auxílio de marido e mulher, para a propagação da raça humana por sucessão legítima, e da igreja por uma semente santa, e para evitar-se a impureza”.
Além disso, ser uma só carne implica também compartilhar sentimentos, atos e suas consequências. Adão e Eva compartilhavam tudo o que estava em sua volta e, certamente, tudo o que compartilhavam produzia um sentimento bom, pelo menos até que viesse o pecado. Eles desfrutavam da mesma paisagem, do mesmo cantar dos pássaros, das mesmas belas cores das flores do campo, da mesma água, dos mesmos frutos e, principalmente, do mesmo Deus. Tudo o que um fazia afetava e/ou influenciava o outro. Um claro exemplo disso é o evento da queda (Gn 3.6). Ambos sofreram as consequências de sua escolha errada (Gn. 3.7-8).
Além disso, por terem desobedecido a Deus, receberam cada qual a sua punição. À mulher, Deus disse: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz…” (Gn 3.16). Ao homem, por sua vez, Deus disse: “…maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes a terra…” (Gn 3.17-19). E, por fim, ambos foram expulsos do jardim do Éden (Gn 3.23-24).
Esses relatos demonstram o quanto ser “uma só carne” implica na união plena de duas pessoas. Todas as nossas escolhas e decisões devem levar em consideração nosso marido ou nossa esposa, seu temperamento, seus sentimentos, suas limitações e suas preferências. Pois tudo o que fazemos, de algum modo, atingirá, direta ou indiretamente, o nosso cônjuge.
CONCLUSÃO
Adão e Eva nos mostram como o casamento é uma ideia divina. Embora  fossem duas pessoas essencialmente idênticas, natural e propositalmente eram diferentes no gênero que define a sexualidade e nos papéis que deveriam desempenhar no plano de Deus para eles e sua posteridade.
Com eles aprendemos também que o casamento é o modo divino para que o homem se complete e encontre satisfação. Contudo, isso só é possível quando o homem e a mulher cumprem seus respectivos papéis no matrimônio. Nessa união não há espaço para uma individualidade egoísta, pois, um pertence ao outro para a glória de Deus.
APLICAÇÃO
Se for casado, agradeça a Deus pelo seu casamento. Dedique tempo orando pelo e com seu cônjuge. Converse mais com ele. Identifique e corrija suas falhas no cumprimento das suas responsabilidades nessa relação. Busque complementar seu cônjuge e o considere em todas as situações de sua vida. Faça uma lista com ações que você deve adotar e abandonar para que seu casamento glorifique a Deus, complete seu cônjuge e traga satisfação a vocês.
Se você é solteiro, conscientize-se bem da seriedade e responsabilidade presentes no casamento. Isso fará toda a diferença. Direcione sua escolha pelos princípios estabelecidos por Deus. Mulheres, não se casem com um homem que não teme ao Senhor e ao qual não possam prometer submissão voluntária. Homens, não se casem com uma mulher que não teme o Senhor e que você não esteja disposto a amá-la. Isso traria terríveis consequências para vocês e os privaria de inúmeras bênçãos que o matrimônio nos concede.
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– Casais da Bíblia. Usado com permissão.

Isaque e Rebeca: um casal dividido pelo amor por seus filhos

ISAQUE E REBECA: UM CASAL DIVIDIDO PELO AMOR POR SEUS FILHOS

Texto Básico: Gênesis 25.27-28
INTRODUÇÃO
Conflitos em nossa vida não é nenhuma novidade. Lidar com eles é uma necessidade constante. Isto porque ainda sofremos a influência do pecado em nossos pensamentos e atitudes. Temos que administrá-los no trabalho (principalmente quando trabalhamos em equipe), nos momentos de lazer (é só pensar em uma partida de futebol), no namoro e, também, no casamento.
Há também os casos em que temos de administrar os conflitos em favor dos outros. Considere, por exemplo, os conflitos existentes na vida dos filhos. Querendo ou não, mais cedo ou mais tarde, os pais terão que administrá-los.
Geralmente os conflitos afloram quando expomos nossas ideias e preferências e elas são contrárias à de outra pessoa. Diante disso, enfrentamos sempre um grande dilema: abrir mão ou não de nossa posição? Entretanto, a questão não é somente ceder ou não em nosso ponto de vista, mas fazer o que é certo. E para que isso aconteça é preciso que sejamos orientados e conduzidos por Deus.
O relato sobre a vida em família de Isaque e Rebeca nos traz uma oportuna lição sobre a administração dos conflitos familiares.
I. CONTEXTO
Depois da morte de Sara, estando Abraão já muito velho, era necessário tomar providências quanto à continuidade da família da aliança, pois Isaque ainda era solteiro. Diante disso, Abraão chamou o seu servo mais antigo e de grande confiança (Gn 24.1-5), muito provavelmente Eliézer, o damasceno (Gn 15.2-3), para encontrar uma esposa dentre sua parentela para Isaque.
O relato sobre a busca e a escolha de uma esposa para Isaque é muito bonito e demonstra o governo soberano do Senhor sobre a vida. O servo de Abraão orou: “Ó SENHOR, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com o meu senhor” (24.12-14). E, assim sucedeu. Uma moça formosa apareceu onde ele estava, deu água a ele e aos seus camelos. Era Rebeca (24.15-51).
O encontro de Isaque e Rebeca também demonstra o estabelecimento dos desígnios do Senhor e o casamento (Gn 24.52-67) como havia plena harmonia entre a vontade de Deus e o sentimento que nasceu em seus corações: “Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou…”(v. 67).
II. ISAQUE E REBECA EM FAMÍLIA
Apesar de essa união ter sido realizada por Deus, devemos nos lembrar de que se tratava de duas pessoas diferentes, que viveram sob a influência do pecado e, portanto, passíveis de cometer erros e de ter de lidar com suas dificuldades.
Na história deste casal encontramos algumas características marcantes que, certamente, os ajudaram na administração de seus conflitos.
A. Um casal monogâmico
Tudo indica que Isaque só teve Rebeca como esposa. Isto significa que eles tiveram um casamento segundo o padrão estabelecido por Deus, ou seja, monogâmico.
Não encontramos na Bíblia qualquer indício que seja de que Isaque tenha se relacionado com outra mulher. O texto aponta apenas para Rebeca. Em sua genealogia, por exemplo, encontramos apenas os nomes dos gêmeos Esaú e Jacó, como seus filhos.
B. Um casamento movido por oração
O casamento de Isaque e Rebeca continuava sendo dirigido por Deus. Diante da esterilidade de Rebeca, que era um obstáculo ao desenvolvimento da família da aliança, Isaque se colocou diante de Deus em oração por sua esposa. Essa atitude não apenas demonstra sua fé em Deus, como também seu amor por sua esposa (Gn 25.21). O resultado disto foi que Deus os abençoou, ouvindo e atendendo essa oração. Rebeca, então, concebeu.
Rebeca também orou a Deus para a resolução de um problema. Quando ela já se achava grávida dos gêmeos, diante de sua agonia com a inquietação dos bebês no seu ventre, ela se dirigiu a Deus. A resposta obtida foi reveladora, apontando para o futuro dos seus filhos: “Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço” (25.23).
C. Um casal afetuoso
Isaque e Rebeca talvez formem o casal mais romântico das Escrituras. Desde o seu primeiro encontro, eles são apresentados de modo bastante romântico (Gn 24.62-67).
No capítulo 26 de Gênesis é narrado o período que Isaque passou na terra dos filisteus por causa da seca e fome que sobreveio à terra (v. 1). Nessa narrativa, observamos que Isaque, temendo por sua vida, apresentou Rebeca, sua esposa, como sendo sua irmã (26.7) – a exemplo do que Abraão fizera com Sara anteriormente (12.13; 20.2).
Permanecendo Isaque naquela região por um tempo razoável e, antes que alguém tomasse Rebeca por sua mulher, Abimeleque, rei dos filisteus, “viu que Isaque acariciava a Rebeca” (26.8). Embora a palavra traduzida por “acariciar”, no hebraico signifique “brincar”, ela denota uma atitude de intimidade que não podia ser aplicada a irmãos, por exemplo. Tanto é assim, que, quando Abimeleque viu aquela cena, mandou chamar Isaque e disse: “…é evidente que ela é tua esposa” (26.9). Esta atitude demonstra afetuosidade entre Isaque e Rebeca. Eles demonstravam carinho um pelo outro.
III. ADMINISTRANDO OS CONFLITOS
Como já dissemos, apesar desta união ter sido planejada por Deus, estavam envolvidas pessoas com suas naturezas pecaminosas, entre as quais os conflitos surgiam e que deveriam ser administrados. Isso não quer dizer que esses conflitos foram necessariamente criados por eles. Um, em especial, não tinha a ver com eles propriamente, mas com os seus filhos, Jacó e Esaú. Esse conflito iniciou-se desde o ventre de Rebeca (25.22).
A. Esaú – O primogênito sem o direito de o ser
Esaú, em hebraico, significa “peludo”. Ele também foi chamado de Edom, que, em hebraico, significa “vermelho”. Ele foi o pai dos edomitas, que habitaram em uma região que hoje é conhecida por Aqaba. Esaú nasceu ruivo e peludo. Ele era um perito caçador, um homem viril, do campo, destemido e agitado, completamente oposto a Jacó. Eles eram muito diferentes, tanto na aparência quanto no temperamento.
Esaú era o primogênito. Na cultura hebraica “o filho mais velho tinha o direito de ser o herdeiro principal da fortuna da família (27.33; Dt 21.17; 1Cr 5.1-2). A herança paterna era dividida pelo número de filhos, e o primeiro sempre tinha direito a duas partes. Por exemplo, se fossem nove filhos, o primeiro receberia duas partes e os outros oito dividiriam as sete partes restantes. Se fossem apenas dois filhos, o primeiro herdava as duas partes sem deixar nada para o irmão. Ao primogênito também cabia a responsabilidade de ser o protetor da família. Na família da aliança, essa fortuna incluía a promessa do Senhor de dar a Abraão uma descendência na terra que abençoaria todas as nações. A primogenitura era transferível, como nos casos de Judá/Rúben, Efraim/Manassés e Salomão/Adonias” (Bíblia de Estudo de Genebra). Em outras palavras, a primogenitura era algo que não se podia dispensar. Era tida como ação graciosa de Deus para um propósito divino e, portanto, considerada uma bênção imensurável.
Esaú, entretanto, rejeitou esta bênção quando a trocou por um prato de lentilhas: “Tinha Jacó feito um cozinhado, quando esmorecido, veio do campo, Esaú e lhe disse: Peço-te que me deixes comer um pouco desse cozinhado vermelho, pois estou esmorecido. Daí chamar-se Edom. Disse Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura. Ele respondeu: estou a ponto de morrer; de que me aproveitará o direito de primogenitura? (…) Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25.29-32,34).
Esaú demonstrou total desprezo pelas coisas de Deus quando rejeitou sua primogenitura, vendendo-a. Essa atitude o caracteriza como um homem profano, imediatista e soberbo, contrapondo-se ao caráter de um servo de Deus: “…nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura” (Hb 12.16). Ele pagou um preço muito alto por este desprezo, pois, mais tarde, quando tentou recuperar a bênção, foi rejeitado.
Não houve lugar para arrependimento: “…querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12.17).
B. Jacó – O primogênito de fato e de direito
Pode soar estranho o que nasceu depois ser considerado o primogênito de fato e de direito, mas, não é. A primogenitura de Jacó não se dá pela ordem do nascimento, mas pela eleição soberana de Deus.
Jacó, diferentemente de seu irmão, era pacato, tranquilo, gostava da casa e de seus afazeres (Gn 25.27). O nome de Jacó pode ter dois significados: “aquele que segura o calcanhar” ou “astuto, suplantador”. Além da aparência física e do caráter, Jacó era diferente de seu irmão, Esaú, também na ambição e na ação:
• Jacó queria a bênção da primogenitura desde o ventre de sua mãe e, isto, é demonstrado quando a narrativa bíblica dá ênfase no modo como eles nasceram – Jacó segurava o calcanhar de Esaú (25.26), numa demonstração de que ele queria ser o primeiro.
• Jacó almejava a bênção de Deus (primogenitura), mesmo sabendo que isto poderia ser impossível. Quando lemos o texto à impressão que fica é que Jacó estava sempre atento às oportunidades. Assim, quando Esaú chega esmorecido e com fome, Jacó simplesmente oferece um acordo – a comida pela primogenitura (25.29-34).
• Jacó também não mediu esforços nem as consequências para conseguir o que queria. Quando soube que o seu pai, já muito velho, abençoaria ao seu irmão, orientado pela mãe, ele se passou por Esaú e foi receber a bênção de Isaque. Havia no coração de Jacó intensidade em querer as bênçãos do Senhor (27.1-29).
Além disso, precisamos entender que Jacó era o herdeiro da promessa desde a sua concepção, eleito soberanamente pelo próprio Deus. Entendendo isto, saberemos que Jacó não usurpou a bênção de Esaú, mas se apropriou, ainda que de forma astuta, daquilo que era seu. Basta olharmos para a resposta que Deus deu a Rebeca no capítulo 25.23: “Respondeu-lhe o SENHOR: Duas nações há no teu ventre, dois povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro, e o mais velho servirá ao mais moço.”
Portanto, o que podemos avaliar destes dois personagens é que o conflito que havia entre eles ia além de suas diferenças físicas e características essenciais, mas, se dava por causa da bênção do Senhor. Um deles queria muito ser o herdeiro da promessa e, o outro, tratou com descaso tão grande privilégio.
IV. CONFITO AGRAVADO
O conflito familiar já existia frente as rivalidades dos irmãos Jacó e Esaú. Entretanto, os posicionamentos que os pais tomaram na tratativa deste conflito foi, de fato, um agravante. Não devemos definir quem estava certo ou errado, mas é prudente pensar que todos tiveram sua parcela de culpa.
A Bíblia nos fala que existia uma preferência dos pais pelos seus filhos: “Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó” (Gn 25.28). Esse favoritismo explícito dificultou ainda mais as coisas, principalmente, porque Deus já havia estabelecido a sua preferência. Livre e soberanamente, Deus havia escolhido Jacó como o herdeiro da promessa e, Isaque, por maior amor que tivesse por Esaú, não poderia contrariar o que Deus já havia estabelecido.
Temos aqui um sério alerta sobre o perigo da predileção entre os filhos. Dar atenção especial a um filho, em detrimento do outro – ainda que em alguns casos isso seja necessário – pode causar sérios problemas: ciúme, ódio, falta de cordialidade, etc. Cabe aos pais edificar um lar de amor, disciplina e aceitação mútua. É preciso combater a rivalidade e a competição entre irmãos. Todos devem sentir-se acolhidos e amados, ainda que considerando a peculiaridade de cada filho.
Mas, o ápice do conflito familiar se deu no momento em que Isaque foi dar sua bênção. O tema desse conflito familiar agora se manifestou plenamente na busca da bênção patriarcal e os equívocos e fraquezas vêm à tona:
a. Isaque se escora em seus sentidos falíveis e não na orientação de Deus (27.4, 21-27);
b. Isaque errou em não se impor como líder espiritual de sua casa e, possivelmente, em não dar ouvidos à Rebeca, sua esposa. Aqui há um paralelo contrastante com 21.8-14;
c. Rebeca contribui para o problema familiar posicionando sua preferência em Jacó; ele usa de astúcia, mas, apesar do seu método não ser o correto, os seus valores espirituais são bons (25.23; 26.35; 27.46);
d. Esaú quebrou o seu juramento a Jacó, pois já havia aberto mão de sua bênção na troca pelo prato de comida (25.31-33); Esaú mostrou seu desprezo pelas bênçãos da aliança ao se casar com as mulheres cananeias (24.3-4; 26.34-35), desapontando inclusive aos seus pais (26.35);
e. Jacó mentiu descaradamente (27.19-20).
CONCLUSÃO
Vimos nesta lição a imensa crise familiar vivida e administrada por Isaque e Rebeca. Pudemos aprender que apesar de ser uma família planejada por Deus, os conflitos existiram e se agravaram, mas que, por causa de atitudes como: oração, demonstração de carinho e fidelidade a Deus, toda crise foi superada e o propósito de Deus foi estabelecido.
A lição também mostra que o partidarismo é muito danoso na vida familiar. Devemos aprender com as diferenças de nossos filhos e ajuda-los a superarem os seus conflitos. Devemos aprender também que as nossas predileções não podem jamais contrariar o que Deus, livre e soberanamente, estabeleceu e determinou.
APLICAÇÃO
Você consegue identificar a influência e os prejuízos que os conflitos causam em seu lar? As decisões que você toma têm resolvido ou agravado esses conflitos?
Considere sempre que, mesmo andando na presença de Deus, por sermos pecadores, sempre teremos de lidar com conflitos. Procure conduzir sua família sob a instrução divina e não segundo a inclinação do coração, que é enganoso. Isso ajudará a resolver e amenizar os efeitos dos conflitos em sua casa.
Como verdadeiro cristão, procure viver em paz com todos que estão ao seu redor; ore por eles e com eles. Esforce-se para melhor interagir com as pessoas, não sendo partidarista ou egocêntrico.
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Nossa Fé -– Casais da Bíblia. Usado com permissão.

                  A Cruz é a Ponte

No antigo Israel, os escravos hebreus, pagavam suas dívidas através do trabalho. A força, os sonhos, toda a vida era dedicada ao seu senhor. Em Êxodo, vemos uma determinação divina para que os escravos fossem libertos no sétimo ano de serviço: "Quando você adquirir um escravo hebreu, ele servirá seis anos; no sétimo ano ele sairá livre, sem pagamento." (Êxodo 21:2)
Alguns escravos se apegavam tanto a seus senhores que poderiam optar por, voluntariamente, se entregarem como escravos daqueles senhores até o final de suas vidas, sem volta para a liberdade. Como um sinal da entrega, esses escravos furavam a orelha. "Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre", Êxodo 21:6. Escravos de orelha furada simbolizavam uma união de serviço e amor.
Deus nos convida através de Seu Filho Jesus a sermos servos. Esta servidão é o oposto da escravidão que exaure as forças humanas em causa alheia. Entregamos nos a Jesus como Senhor,  Ele pagou nossas dívidas, nos tornando livres do opressor. Esse é o que oprime em carga de culpa e infelicidade, aprisionando a alma em serviço de delito a liberdade. Jesus é a nossa liberdade. Não precisamos realizar grandes obras, ajuntar exorbitantes quantias, nos esmerar em ser o melhor ou o mais belo. O mérito dessa liberdade não é nosso, mas de Deus.
E nesse plano eterno e por vezes incompreensível, Ele estabelece um novo conceito de servidão, onde a liberdade é a moeda. É muito simples. O céu pagou nossa dívida com o inferno. Já não pertencemos mais ao domínio do mal. Foi embora a culpa. Somos cheios de defeitos, e ainda assim amados com incondicional amor. Se antes o simbolismo da escravidão voluntária era a orelha furada, na nova aliança é um coração circuncidado, renovado, inteiramente entregue ao Reino.“Se, pois o Filho vos libertar verdadeiramente sereis livres” Jo 8:36. A cruz é o ponte que nos garante a entrada em um novo Reino de liberdade!
No mar do esquecimento
Nada em nós é suficiente para nos reconciliar com Deus. Apenas em Cristo recebemos a grande dádiva da justiça. Se Ele é justo, e habita em nós, nos tornamos justos naquilo que somos nEle: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” Rm 5:9. Não precisamos temer a culpa, Ele nos faz livres! Tudo que precisamos  é receber as promessas em nosso ser e prosseguir confiando naquEle que nos resgatou. “Eu, eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro” Is 43:25.
Olhando para cruz
Em Cristo recebemos vitória, porque Ele nos diz:  Fostes justificados pelo meu sangue! Aleluia! Chamei-te para a liberdade! “Não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” Gl 5:1. Jesus liberta-nos para uma nova vida, essa liberdade nos dá constante alegria, uma paz que não se encontra em qualquer outro lugar. Quando a culpa e o pecado tentarem nos escravizar, olhemos para Cruz. Nela Jesus deixou o meu e o seu pecado, lá Ele nos resgatou para uma nova vida. " Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" Jo 3:16
Orelha Furada
Imagino os servos israelitas andando no meio do seu povo, com orelhas furadas. Sem emitir som, ou gesto, sem alarde, todos identificavam: "Eis um escravo, quem é teu senhor?" Assim se faz ao cristão, suas obras revelam o Senhor que os libertou: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne; vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” Gl 2:20. Lembram do profeta Eliseu? A sunamita o recebia em sua casa para alimentar-lhe, seu comportamento chamou-lhe à atenção: "E ela disse a seu marido: Eis que tenho observado que este que sempre passa por nós é um santo homem de Deus" II Rs 4:9. O servo de Cristo, deixa sua marca por onde passa.
Libertos da Escravidão
Saiba que Deus o ama e te convida a servi-Lo, Ele pagou sua dívida, livrando-o do inferno, perdoando toda sua culpa. Ele te chama para algo novo e melhor, para a liberdade. Uma condição que o mundo jamais pode proporcionar. Uma paz, que a nada pode se comparar. Tudo que é necessário é um coração. Seu coração entregue a confessar: “Senhor Jesus me perdoa e me ajuda a prosseguir em novidade de vida, seja meu Senhor, eis-me aqui como servo”. Que Deus te abençoe e não temas porque nEle somos livres!

Autor: Wilma Rejane

                  Mágoas e Perdão


Longe de vós toda a amargura, e cólera, e ira, e gritaria... Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou (Ef 4.31,32)
 
De todas as tempestades que assolam a família atualmente, talvez nenhuma seja responsável por mais destruição que as mágoas. As mágoas representam ira não-resolvida. Quase sempre envolvem as pessoas mais próximas de nós. Enquanto nos indignamos quando ouvimos de tragédias acontecendo a pessoas em outras partes do planeta (terrorismo, genocida, etc.) normalmente não guardamos mágoas contra os vilões. A pessoa magoada experimenta ira contínua, fervendo um pouco abaixo da superfície da sua vida, uma ferida aberta e podre que tempo nunca cura.  Talvez ela fique adormecida por um tempo, mas até que seja drenada do seu veneno fatal pelo poder curador da cruz de Cristo, mata a pessoa física e espiritualmente aos poucos. As mágoas corrompem as fontes da vida.   
O primeiro passo para libertação das mágoas é identificar nossa ira. Mas para alguns, não é muito “espiritual” admitir a ira. Por isso, usamos outros termos para descrever o que a Bíblia identifica, sim, como “ira”: “frustração”, “tristeza”, “decepção”, etc.  (Ef 4.26,27,31). 
Deus nos chama para uma vida de perdão, o mesmo tipo de perdão que Cristo nos ofereceu pela Sua morte na cruz. Somente Cristo Jesus,vivo em nós, será capaz de transformar mágoas em perdão.
 
Conselheiros bíblicos apontam para o fato de que a raiz de ira crônica (mágoa) muitas vezes é uma questão de nós não recebermos o que desejamos desesperadamente de outra pessoa ou situação. Esse desejo pode ser tão intenso que se torna um ídolo em nosso coração, um objeto de adoração, mais importante que Deus em nossa vida. Quando nosso desejo é bloqueado por alguém, respondemos com ira, guardamos mágoas, procuramos vingança, fofocamos ou odiamos essa pessoa que nos privou daquilo que achamos tão importante. 
Se você se encontra irado por muito tempo contra alguém, especialmente alguém da sua família de origem ou família atual, reflita sobre essa questão: “O que eu desejava tanto, que fulano não me deu?” Por exemplo, alguém que foi rejeitado pelos pais ou um cônjuge pode responder, “Eu queria ser aceito.” Outra pessoa poderia responder, “Eu queria um pai presente, que brincasse comigo e se interessasse por mim.” Outra pessoa, “Eu queria que meu marido me tratasse como uma pessoa e não objeto”.    
 
Nossa cultura de vitimização justifica ira e mágoas como respostas a situações como essas—afinal de contas, realmente somos vítimas.  Mas uma cultura de vitimização nunca alcança vitória ou livramento da escravidão de mágoas.  E falha por não levar em consideração a vida de Cristo em nós—Aquele que foi o maior Vítima de todos os tempos. Na cruz Ele exclamou, “Pai, perdoa-lhes, porque  não sabem o que fazem”(Lc 23.34)  
Certamente não queremos minimizar ou negar o fato de que muitos entre nós somos vítimas. Mas afirmamos que, mesmo assim, somos responsáveis pelas nossas respostas aos abusos que sofremos.   
Em Mateus 18.21-35 Jesus contou a história de um servo devedor que não podia pagar uma dívida que equivalia entre 260.000 e 360.000 QUILOS de metal precioso (talvez ouro)--uma quantia que demoraria milhares de anos para quitar.  O rei perdoou-lhe sua dívida, só para descobrir que o servo ingrato lançou na cadeia um conservo que lhe devia o equivalente de 100 dias de serviço de um trabalhador comum.   
A moral da história? Quando realmente percebemos o tamanho da dívida que temos com Deus, TODAS as ofensas que pessoas cometem contra nós, embora reais e difíceis, diminuem em comparação. A chave está em reconhecer nossa própria dívida, e mergulharmos no amor e perdão que nosso Rei nos estendeu.
 
Pessoas que ainda não reconheceram o verdadeiro estado do seu coração, a profundidade do seu pecado, a miséria da sua alma diante de Deus, muitas vezes têm dificuldade em perdoar outras pessoas os males que lhes fizeram. Não entendem tamanha dívida que elas mesmas foram perdoadas e, por isso, guardam mágoas contra essas pessoas.  
Muitas vezes vivo grato pelo perdão, mas não ao ponto de perdoar aos outros. Minha tendência é diminuir o tamanho da minha dívida para com Deus, imaginando que sou capaz de pagá-la, quando de fato a conta é impossível.  Por isso, recuso perdoar aqueles que me magoaram.  Guardo a minha ira, e responsabilizo as pessoas por satisfazerem meus desejos.
Existe alguém que eu estou responsabilizando por ter me ofendido, que eu mantenho como devedor?  Guardo mágoas contra essa pessoa?  
Perdoar alguém que nos abusou, ofendeu, machucou ou privou é impossível sem uma obra profunda de Jesus no coração. Só a vida dEle em nós para perdoar do coração! Mas Ele prometeu nos capacitar para fazer isso e muito mais.
Você realmente crê que Deus pode carregar a sua dor? Sarar as feridas que você recebeu na jornada da vida? Pela graça e pelo poder de Jesus, você pode confiar ao Pai aquele que fez de você uma vítima?  Viver livre da ira e das mágoas envolve um evento E UM PROCESSO.  Muitas vezes teremos de chegar a um ponto em que estendamos perdão “uma vez para sempre” para alguém que nos ofendeu. Mas não significa que nunca mais seremos inclinados a lembrar o que ele fez, com a possibilidade de todas as velhas emoções voltarem como furação.   
“Perdoar e esquecer” soa melhor na teoria do que na prática. Para muitos é impossível esquecer de eventos traumáticos em suas vidas. Mas podem, sim, “esquecer” no sentido bíblico quando escolhem não levar em conta as ofensas do passado. É isso que a Bíblia quer dizer quando diz que Deus “esquece” de alguma coisa. Ele não deixa de ser Deus, tendo uma memória fraca. Mas Ele decide nunca mais levar em conta nosso pecado (Sl 103.10, 12).  Por isso, talvez tenhamos de passar pelo processo de perdão em nosso coração repetidas vezes, escolhendo cada vez pela fé não mais responsabilizar a pessoa pelo seu pecado, morrendo momento após momento ao “direito” de vingança, e estendendo o amor e perdão de Cristo. 
Também é importante lembrar que o perdão pode ser unilateral, quer dizer, podemos perdoar da nossa parte sem que a outra pessoa peça perdão, reconheça seu erro, ou aceite o perdão.  Não importa tanto quanto o fato de que estendamos para ela o perdão como Cristo fez por nós. 
Passos para o Perdão O que fazer se descubro ira e mágoa em meu coração? Os “passos para o perdão” que seguem já ajudaram muitas pessoas a encontrar alegria, paz e liberdade da escravidão das mágoas. Lembre-se de que esses passos são somente parte de um processo. Não representam uma “fórmula mágica”, mas uma expressão de princípios bíblicos sobre o perdão.  
1. Identificar as ofensas específicas que a outra pessoa cometeu contra mim.
2. Arrependa-se do seu próprio pecado, confessando-o a Deus.
3. Conte o custo de não perdoar.
4. Veja a pessoa que você está perdoando pela perspectiva divina.
5. Ore pela pessoa que você está perdoando.
6. Libere as ofensas que a pessoa cometeu contra você, e cancele a dívida dele(a).
7. Reconstrua relacionamentos, dentro do possível (e sábio).   
Talvez não seja possível voltar o tempo e reconstruir o relacionamento como era antes. Mas há passos concretos que podem ser tomados, tanto quanto depender de você (Rm 12.18), para reconstruir o relacionamento.

Autor: Pr. David J. Merkh 

  Por Que Deus Não Impediu a Queda?


Eis uma das mais delicadas questões com que se depara a teologia cristã. Como crentes na soberania divina, não podemos supor que a Queda tenha pego Deus de surpresa. A prova de que Deus não apenas previa a desobediência humana, como a permitiu, e a incluiu em Seu glorioso plano, é que, antes mesmo da fundação do mundo, Ele havia provido um meio de equacionar o problema do pecado. De forma que a Bíblia nos apresenta Cristo como o “Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo” (Ap.13:8b).
Não há improvisos no plano arquitetado por Deus. Quem faz provisão não necessita fazer improviso. Não há planos tapa-buraco. Em Sua Onisciência, Deus sempre soube com antecedência de todas as coisas. O Deus das Escrituras não deve ser confundido com o “deus” da chamada teologia de processo, que nada sabe quanto ao futuro, pois é refém do tempo que ele mesmo criou. O Criador vive na Eternidade, onde não há passado ou futuro, mas um eterno agora. Todas as coisas estão diante d’Ele concomitantemente. Portanto, não precisa lançar mão de dados estatísticos para saber a probabilidade de algo acontecer ou não. Ele simplesmente sabe.
Em Sua sabedoria, Ele decidiu que o homem só conheceria Seu amor e Sua graça, se tropeçasse e caísse de seu estado original. Agostinho foi feliz ao declarar: “Oh bendita queda, que nos proporcionou tão grande redentor!”. Se não houvesse Queda, não haveria necessidade de Redenção. Se não ocorresse a Ruptura, também não haveria a Convergência em Cristo na Plenitude dos Tempos. Portanto, não haveria cruz; jamais entenderíamos a profundidade do amor de Deus. A graça nos seria um conceito desprovido de qualquer sentido.
Sem a Queda, fatalmente seríamos corrompidos por nossa própria perfeição, como teria ocorrido a um querubim que se amotinara contra Deus. Foi melhor sermos humilhados, para, depois sermos exaltados pela Graça divina, do que nos exaltarmos, e sermos definitivamente derrubados de nossa arrogância.
Tudo estava no plano de Deus. A maneira como cairíamos, e como seríamos reconduzidos à glória a fim de que jamais voltássemos a cair.
A serpente não entrou no paraíso por um descuido de Deus.
A provisão de Deus para a reversão da Queda é Cristo. Ele reverteu, através de Sua obediência, o processo desencadeado pelo pecado. E não só zerou nosso débito, mas colocou-nos numa situação de crédito com Deus.
Adão foi tentado no paraíso e caiu. Jesus foi tentado no deserto, e não caiu. Enquanto Adão podia comer de todas as árvores, Jesus, no deserto, não tinha alternativa para saciar Sua fome, senão transformar pedras em pães. Mas Ele resistiu até o último instante.
Agora, Sua vida justa e santa é creditada em nossa conta, enquanto nossos pecados foram debitados na Sua. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co.5:21).